MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Thiago Dornela Apolinário da Silva
Criar - AS REDAÇÕES NOTA 10 NO VESTIBULAR 2005

REDAÇÃO NOTA 10 - UNICAMP 2005

Quando a televisão chegou ao Brasil, na década de 50, o rádio já havia se consolidado como o meio de comunicação hegemônico, ocupando lugar de destaque nos lares e na vida das famílias. Por meio desse veículo, a sociedade informava-se, divertia-se e identificava-se com um ideal de brasilidade difundido principalmente ao longo da era Vargas. Depois de meio século de encanto com a experiência audiovisual, o rádio ainda se mantém como um poderoso elemento difusor de idéias frente à avalanche modernizante trazida pela TV e, mais recentemente, pela internet. Do que deriva a força que o torna tão indispensável ainda hoje?

O rádio traz consigo dois elementos positivos, de outros meios: o alcance da televisão com o conteúdo do jornal. Enquanto o brilho da TV muitas vezes acaba por desobrigá-la de transmitir informações de maior consistência, a falta de imagem que caracteriza o rádio impõe um cuidado maior de seus produtores para com a mensagem, que é a sua essência. O sucesso da campanha nacionalista de Vargas deveu-se ao fato de o estadista ter percebido que a atenção e o estímulo à imaginação que acompanham uma transmissão radiofônica faziam com que o seu discurso atingisse o pensamento do brasileiro; dessa forma, a Hora do Brasil constitui-se do uso da comunicação direta com o ouvinte, que fecha os olhos para concentrar-se no que ouve, para construir uma nova mentalidade. A estética da radiodifusão, muito embora tenha servido aos interesses propagandísticos do ditador, também integrou o Brasil culturalmente, dando-lhe uma memória que se contrapõe à atual sucessão hipnotizante de imagem que as TVs levam ao ar.

Ao promover o debate local e o diálogo com o ouvinte, o rádio se configura como alternativa à mídias globalizantes. Se, no passado, ele foi um instrumento de divulgação de ideologias centralizadoras às massas, hoje o valor dele está na valorização do pluralismo, da diversidade, dos "públicos-alvos" específicos. As mais diversas tendências que podem ser encontradas ao longo do dial se opõem à homogeneidade da televisão. As rádios universitárias, as comunitárias, a rádio AM e até mesmo as rádios "piratas" - quilombos da comunicação - são formas de resistência àquilo que é imposto pelo poder econômico ao qual se vinculam grandes grupos empresariais do setor. Com efeito, os seus microfones são mais democráticos, e o seu enfoque regional se soma à participação popular para construir um plenário de exposição da cultura produzida pelo povo, de seus anseios, seus protestos, de suas histórias de vida. Dos Brasis de Euclides da Cunha, o rádio é a voz do Brasil de dentro, e não aquele litoral, de costas para este e atento para os modismos do exterior.

Se Getúlio vivesse, certamente continuaria valorizando o rádio em sua propaganda. Radialismo é reflexão, em oposição à desconstrução da memória promovida pela TV, sintetizada no esquecimento das notícias "videoclipe" do Jornal nacional . Mas o rádio de hoje não é o da década de 40, e o velho caudilho deparar-se-ia com a utilidade pública, a prestação de serviços, a denúncia, a opinião do ouvinte, ao vivo, influenciando a discussão dos programas que vão ao ar antes e depois de sua Voz do Brasil.