Vanuatu, 15 de agosto de 2008.

Querida Rê,

Há muito tempo não conversamos e, por essa razão, decidi escrever a você para comunicar a novidade. Depois de muitas viagens, diversos países conhecidos, tantas culturas diferentes, encontrei em Vanuatu o lugar onde quero viver.

Veja bem, trabalhei durante anos como correspondente internacional porque queria conhecer o mundo, mas também encontrar meu lugar. Vim para Vanuatu fazer uma reportagem sobre esse arqueólogo no Pacífico, onde se vive de pesca, agricultura e algum turismo. Imagine, Rê, que esse lugar é considerado o país mais feliz do mundo. Ao conhecer um pouco do local, constatei o motivo e a veracidade da classificação. Encantada, estou de mudança para o país.

Quando aqui cheguei, fiquei assustada com tanta simplicidade. Como seria possível viver sem internet? Passados alguns dias, percebi que o american way of life, cada vez mais imposto, com seu consumismo voraz a determinar a destruição da natureza, na verdade, nos torna infelizes. Rê, acho que Pasargada foi inspirada em Vanuatu.

As pessoas buscam padrões para a felicidade, que tem se tornado uma verdadeira indústria. Busca-se a alegria em drogas como o LSD, a realização profissional consiste, não raro, na eliminação do companheiro ao lado; a satisfação pessoal resume-se, tantas vezes, em compras e lucro. Tenho a certeza de que você continua viciada em trabalho, sem tempo para aquele sorvete de chocolate com o sabor da nossa infância.

Querida prima, após muito trabalho e estresse, decidi dizer adeus ao jornalismo, meu velho sonho de criança, para começar uma vida mais feliz. Devo voltar em breve para o Brasil pois preciso resolver pendências e, claro, rever a todos. Espero que você encontre a sua Vanuatu.

Abraços,
F.A.D.P.