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Bárbara Clemente
Criar Ribeirão Preto

Dentre Antoine e José Dias

Antoine era um jovem licenciado em aramaico, biologia e cinema, profundo conhecedor de sua língua, um exímio estudioso. Contudo, ele constatava muitas vezes que conhecimento, domínio e inteligência são as palavras que designam baboseiras bem construídas e lindamente pronunciadas e são tão traiçoeiras que frequentemente é mais vantajoso ser um alienado que um intelectual consagrado ou um executivo de sucesso. Será que assim como Antoine de Martin Page pensa, a chave para a felicidade está no não domínio do próprio idioma e na não estupidificação? O não domínio da língua causa mesmo a exclusão?

As línguas bem dominadas, protegidas por normas cultas e imensidão vocabular são ferramentas da cultura, armas da política, essenciais na determinação da carreira e principalmente na execução da cidadania. Quanto maior o repertório e conhecimento, mais competência e segurança o indivíduo terá para absorver novas idéias, saber seus direitos e deveres enquanto cidadão. Não raro, pesquisadores americanos constataram que um chefe de setor domina até 5 000 palavras, enquanto um executivo domina mais de 50 000.

Ademais, a capacidade de se comunicar de forma clara, além de essencial, é um desafio cotidiano, visto que o conhecimento do idioma só é alcançado através de muito esforço e educação. No entanto, o ensino brasileiro público não dá condições e nem aulas suficientes para um grande aproveitamento da língua; contribui somente para a alienação. Não é a toa que a língua é fator de discriminação ou ascensão social.

A ascensão pelo vocabulário é sempre buscada, o status sócio- intelectual também - assim como José Dias, personagem machadiano, buscou - E para tal somente o estudo e o hábito de leitura são as saídas. Quem não lê não se comunica bem, não cria intelectualmente, não reivindica, não critica, se quer sabe seus privilégios e obrigações.

Logo, não ter domínio sobre o próprio idioma é negar o dinamismo que o conhecimento proporciona, é entrar para o submundo, é não exercer cidadania, é ficar na mesmice, é contribuir para manipulação, é contar a história da estupidificação. Dentre Antoine e José Dias, o domínio lingüístico, o estudo e a cultura iniciam a inclusão social.