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Thiago Rocha de Araujo
Criar Ribeirão Preto

O ver, o ler e o ouvir

Macabéas ligam seus rádios para ouvirem as notícias. Jacintos, seus televisores. E os poetas com suas revistas "Orpheu" em mãos. Os veículos de informação nasceram para entreter. Certo? Não, errado. Na verdade só mascaram uma tática de ampliação comercial com seus infinitos "Patrocinado por ...". As notícias são espetacularizadas, informam o que dá audiência, seja verdade irrefutável ou mesmo, em sua maioria, modificados ao gosto do espectador.

Nas antigas colônias, época em que Iracemas vagavam pelas florestas e Martins habitavam o litoral, existiam jornais, que eram anuais devido às precárias tecnologias de transporte, os quais repassavam apenas notícias referentes à metrópole e à coroa, não existia o conceito de mundo. O que vendiam eram informações "do Rei" e dos que falassem de seu império. Como, atualmente, os jornais passam as notícias que interessam, ou modificam outras para interessarem, ao público. Informação é o que vende, não com o intuito, necessariamente, de informar.

Pobres Macabéas, o mais próximo que chegariam de suas "rádios-relógio" seria o "horário do Brasil", o qual tem a proposta de ser imparcial, mesmo sabendo que foi criado por Vargas para falar bem do mesmo. "Num oferecimento  de..." a fidelidade com a informação "nua e crua" foi perdida. Tocam-se músicas sem conteúdo, mas que vendem. O ouvinte pensa ser livre, mas é acometido por uma "pop-aculturação".

Os irmãos Lumiere talvez não inventassem a idéia da "tele visão", ou visão em um quadro, caso soubessem que o que era para mostrar imagens do exótico, hoje passa informações modificadas para darem audiência e lucro. Todos sabem quem foi Isabella Nardoni, mas não quem ganhou um Nobel da paz. Sabem quem ganhou o "Big Brother" mas não conhecem os problemas do Apartheid. Vêem o McDonald’s, mas não sabem que morre uma criança a cada três segundos em média de fome no mundo. Mostram a corrupção política, mas não lembram do movimento dos "Caras-pintadas".

A notícia espetacularizada só agrava o problema da insegurança, da alienação, da impunidade e da corrupção. O que era para informar, hoje vende. As "notícias" têm preços. Pagamos, então, não pelo que queremos saber, ver, ler e ouvir, mas por aquilo o qual querem vender. Macabéas ouvem suas músicas "bate-estaca". Jacintos assistem, atônitos, ao arremesso de Isabellas Nardonis. Os poetas lêem os "quadrinhos" do jornal.