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Thais Bassi Cardoso
Criar Ribeirão Preto

Vidas vegetativas

Ontem descobri que há uma planta no jardim de casa. Agora, com o aquecimento global, descobri que ela é importante por reter parte do CO2, fazer fotossíntese, além de produzir frutos. Apesar de sempre ter estado lá, descobri só hoje que se chama avenca. A avenca é o negro, a empregada, o suburbano ou qualquer outro excluído.

É raro encontrar quem olhe as pirâmides e pense nas mãos escravas que as construíram; a imaginação se limita ao faraó Quéops ou Quefren e o sofrimento é invisível. Os trabalhadores são invisíveis. Os ideais da Revolução Francesa mostraram-se frágeis castelos de areia e as flores da Primavera dos Povos murcharam uma a uma, culminando na podridão atual.

Hoje, a democracia é perversa. É demoníaca por assegurar todos os direitos de igualdade, mas não verificar seu cumprimento. O desenvolvimento de uma civilização não pode ser medido pelas lojas de Frankfurt ou pelos executivos bem-sucedidos desfilando com seus notebooks em shoppings de Amsterdã, mas sim pelas prostitutas, mendigos, faxineiros, crianças pobres, enfim, a outra parte do mundo que o mundo teima em não ver.

A invisibilidade social estica suas raízes à medida que a segregação se instala. Condomínios de segurança são erguidos para conter a revolta dos invisíveis, escolas contratam vigias para barrar estudantes hostilizados de saírem atirando nos outros e muros na Europa são construídos para impedir a entrada dos pobres africanos que ela tanto defende em ONGs.

Poderia concluir a redação ressaltando a importância de tomar atitudes. Seria, ao mesmo tempo, alentador e politicamente correto, mas não é o que a realidade mostra. Ela mostra não haver nenhum interesse, por parte dos gigantes, em acabar com a vida vegetal e limitada das pessoas, que se resumem a aceitar.