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Rafael Minoru Tiba
Criar Ribeirão Preto

Trevas às claras

Platão recorre ao simulacro da caverna como alegoria do mundo. Vivemos à sombra de reminiscências convivendo com outros seres no escuro, ou, como diria Saramago, na cegueira branca? O alto poder, o governo, em termos claros, enxerga a sociedade do plano alto - conhece a saída da caverna -  no entanto se auto-veda para ostentar uns poucos e "grandes" ideais pessoais.

Um personagem de Guimarães, Damázio, perde-se na brincadeira de juntar palavras. Somos "Damázios"? Fazemo-nos "Damázios"? Para não aceitar o rótulo de Famigerado escondemos rostos e olhos. Somos e nos fazemos cegos, o caos conseqüente da "cegueira branca" é a guerra pela sobrevivência constante, vide a situação de Santa Catarina. É a realidade de Saramago fora de sua ficção.

Quem controla a máquina do Estado possui "olhos de cigana oblíquos e dissimulados". Envolvem toda uma sociedade com seus "olhos de ressaca" para implantar a sua verdade. No entanto, não são cegos para a realidade, fazem-se disso para alimentar uma ambição pessoal. Somos como Bentinho, tentando provar a culpa de Capitu, mas a cegueira faz de nossos argumentos uma prova de nossa falha.

Em terra de cego, quem tem um olho é mártir. Cristo morreu para salvar o mundo, Luther King defendendo o fim do racismo. A sociedade cega a tiros quem enxerga mais do que deveria. Como no "Admirável Mundo Novo", somos curados de nossas loucuras constantemente. Para viver em terra de cegos há de ser um - pelo menos fingir.

Vivemos em trevas de cegueira branca, buscando constantemente provas de nosso fracasso. Como que atar as duas pontas da vida para entender os nossos "ciúmes", ou melhor, a nossa cegueira? Somos cegos? Fazemo-nos cegos? Ou, fazem-nos cegos?