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Leda Netto Marsari
Criar Catanduva

Um vulcão adormecido

A raça humana comporta em si muitos conflitos interiores, como a inveja, o medo, o pessimismo, o egoísmo e a materialização pessoal. Dentre esses sentimentos arcaicos e humanos destaca-se o ciúme. Ele já foi abordado em obras literárias, como em Dom Casmurro, de Machado de Assis; em letras musicais e até serviu de tema  de filme, como na maioria dos romances. Contudo, em vez de gerar arte, pode redundar em tragédia, quando se excede em doença.

O ciúme é uma evidência de insegurança e baixa auto-estima. Como Bentinho, de Machado de Assis, outras pessoas são imaturas, incapazes de sustentar a possibilidade de um adultério, tornando-se, assim, "casmurras" e fechadas para o mundo. Nas tradicionais novelas, o ciúme é quase uma personagem. Ele é embutido na trama de uma forma que torna-se essencial a um bom casamento ou namoro. Mas, na vida dura e real, a questão do ciúme vai de encontro a essas ficções. O caso mais recente de homicídio passional - o caso Eloá - exterioriza a mente doentia de grande parte dos ciumentos.

Ao contrário do que algumas revistas de teor duvidoso preconizam, o ciúme não é "aquela pimentinha no romance". Não é ele quem faz o relacionamento se concretizar. Essa patologia é um vulcão na iminência de acordar. E quando as lavas entram em choque com a natureza abaixo, desfiguram-na, tiram-lhe a vitalidade e equilíbrio biológico. Da mesma forma, esse sentimento pode chegar ao extremo e destruir um indivíduo e as pessoas que o cercam. Esse extremo chega a homicídio, violências ou agressões verbais, desestruturando a vida do companheiro.

Na atualidade, podemos dizer que a violência das grandes cidades e a globalização contribuíram para a interiorização do homem. Cada vez mais, vemos condomínios fechados, "baladas particulares", e acesso doentio à internet. Esse isolamento resultou em um egocentrismo exacerbado e patológico, que não admite perdas. Assim, as relações inter-pessoais são elementos de grande apego a essas vítimas do caos moderno.

O que sustenta o amor não é o ciúme, mas sim o sentimento amoroso em si. O essencial é observar se essa afetividade é correspondida, compreendida e naturalmente verdadeira. Caso contrário, não é um relacionamento genuíno e digno de continuidade.