Construir uma casa, detalhe por detalhe, exige do servente um trabalho manual, paciente e persistente. Se cai um tijolo, ele não destrói toda a parede. Esse trabalho de habilidade e de persistência compara-se a um dilema que antecede a humanidade e perdura ainda hoje: a ânsia da vingança contra a maturidade do perdão.

Um vento pode pulverizar o projeto de um engenheiro. Da mesma forma, os seres humanos estão sujeitos a incidentes provocados por outros, que, por vezes, não comungam da vontade daqueles. As ações da natureza, a saber o vento, não estragam a obra pela vontade própria, assim como algumas pessoas que nos ferem sem considerarem isso.

A comunidade humana, entretanto, não é homogênea, logo as tradições, as culturas, os valores e a moral divergem, desde a relação entre países, até dentro de um lar. Muitos dos atos que os indivíduos cometem não partilham da mesma inocência do vento; e grande parte da mente daqueles que sofrem esses atos não é capaz de diluir a vingança do pensamento. As duas grandes guerras que pertubaram o século anterior foram decorrência da ambição e, principalmente, da vingança, que é um elemento que apimenta envolvendo os homens e seus orgulhos.

Por outro lado, a linha do tempo dos acontecimentos exterioriza um contingente que não adotou o revide como meta de vida. O acidente em Chernobil fez com que, até hoje, as pessoas daquela região tivessem parte de suas células geneticamente modificadas. No entanto, os herdeiros desse desastre não saíram ao mundo exterminando usinas  nucleares. Caso os judeus exteriorizassem sua ânsia de vingança, teríamos, hoje, campos de concentração maiores que cidades, somente para o extermínio dos "arianos".

O sistema judiciário serve de mediador dos conflitos entre os homens, mas nem sempre coerentemente. A pena de morte legalizada em alguns países não se vinga da causa, sim da conseqüência de um modelo de sociedade deficiente. Isso se compara ao projeto derrubado pelo vento: a destruição da casa pode ter sido condicionada pela vulnerabilidade do material. Jovens se tornam criminosos pela vulnerabilidade da escola pública e da estrutura desajustada de suas famílias.

Portanto, da mesma forma que o servente irá posicionar melhor aquele tijolo que caiu, e o engenheiro melhor irá proteger o projeto do vento, a comunidade global deveria redirecionar as forças e as estratégias de montar uma estrutura vingativa, como a cadeira elétrica, e desenvolver a sabedoria que requer o perdão. Este constrói elementos mais duradouros, tais como a tolerância, o respeito e a fraternidade.