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Flávio Cruz Ferro
Criar Ribeirão Preto

O monstro na jaula, já

Em 1929, sentia-se, pela primeira vez, uma crise capitalista mundial. Causada pela superprodução, especulação e liberdade de mercado, ela assemelha-se muito à crise que sentimos atualmente. Ambas foram geradas por doutrinas econômicas falhas impuseram consequências difíceis à sociedade. Apesar das semelhanças, a solução da atual deve ser diferente de 29.

Nas décadas anteriores à primeira crise, o regime econômico seguido pelos países centrais era o liberalismo. Adam Smith, pai iluminista dessa doutrina, pregava a liberdade total de mercado, o Estado não deveria intervir nunca na economia. Pela rigidez de suas idéias, percebe-se que tal regime criou um monstro: o Mercado-livre. Esse monstro foi o responsável pela crise de 29 e, devido à retomada de Adam Smith pelos neoliberais, pela crise atual também. Mesmo assim, não se entende que liberais e neoliberais assumem o papel do cientista criador de Frankenstein, o monstro que se volta contra o criador.

Contudo, no atual caso, a globalização trouxe a percepção do mercado mundial, já que ele atinge todos os cantos do globo. Logo, o monstro está em todas as partes causando sofrimento e terror. Deve-se entender por isso desemprego e medo de consumo. Ao atingir empresas como a Vale na produção, o monstro força a demissão de milhares de pessoas, impossibilitando-as de consumir. Também atinge outras com a cautela de comprar pelo medo do risco de faltar dinheiro, porém assim diminuem as demandas e as empresas são forçadas a demitir causando terror e sofrimento... Frankenstein sabe exatamente os pontos fracos do velho cientista.

Pergunta-se: Quais as conseqüências que isso trará ao mundo? A resposta é uma difícil incógnita, todavia podemos olhar um pouco ao passado para arriscar previsões. Nos EUA, após o ápice da crise, surgiu a doutrina de John Keynes, que pregava intervenção estatal e, depois, o bem-estar social. Foi um avanço social tremendo, mas com final trágico ao ser substituído pelo neoliberalismo. Posso esperar para os anos vindouros uma situação semelhante - que já é constatada com a recuperação de grandes bancos pelo Estado -, contudo espero também que o caminho tenha um fim mais feliz para o cientista: o apresamento de Frankenstein.

A crise econômica por que passamos é sinal de que algo falhou na resolução da anterior. O mercado total ou máximo é o monstro que não deve ter liberdade, já que é incontrolável e causa o sofrimento e o terror. Porém insiste-se no erro de acreditar nele e o monstro ressurge. Para as próximas décadas, desejo um trajeto diferente: que o cientista, ao perceber que o monstro se voltou contra ele, prenda-o em uma jaula.