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Flávio Cruz Ferro
Criar Ribeirão Preto

Cantando-a com maturidade

Há um fardo carregado pela humanidade que causa a insatisfação naqueles que não a alcançam e o abuso nos que têm a ilusão de tê-la alcançado: a liberdade. Em ambos os casos, há o equívoco de sua definição. Acham que o conceito define a livre-escolha, sem responsabilidades, nem conseqüências. Outros apelam para o poder de consumo, de ter o que quiser. Estão certos? Não, e, por isso, frustam-se na busca ou na utilização da "independência".

Dentre os três casos citados - os insatisfeitos, os abusadores e os consumistas -, o último é o mais fácil de ser analisado. São frutos da sociedade capitalista e acreditam que o poder aquisitivo é a chave da prisão que é a sociedade. Pensam ser livres ao conseguirem quase tudo pelo dinheiro, mas não percebem que são escravos do consumo, do luxo e são presos a regras e etiquetas de alta classe, além de amedrontados quando falta segurança. Infelizmente, só o percebem após a vida de busca por essa vida, livre no bolso e presa por banalidades.

O segundo caso de engano é aquele que abusa do poder de livre-escolha. São normalmente jovens, com nossa característica e maturidade relativo desprezo com o futuro. Muitas vezes, a sociedade contribui para isso. Anos atrás, eram comuns propagandas de cigarro em que se mostrava um homem de chapéu num lugar lindo com uma bela mulher (símbolos da liberdade) fumando. Com isso, o adolescente tolhido a vida inteira de suas vontades resolve ser livre como o homem de chapéu. E sente-se assim, ao desrespeitar regras e conselhos, acha-se livre dos limites da sociedade, contudo não entende que estará preso a um vício e suas conseqüências fatais. Será livre, mas sem os pulmões.

Então, o que é liberdade? Para entendê-la, devemos pensar em um pássaro na gaiola. Ele nasceu preso e não sabe viver sozinho na natureza. Se o soltarmos, morrerá da falta de experiência em ser livre. Nós somos o pássaro, presos na sociedade, que nos exige muitos deveres e limita nossas ambições. Todavia, tentarmos nos livrar da prisão, abusamos dos perigos da vida sem limites. Isso não é liberdade, que sim é viver sem grandes limitações físicas, mentais e materiais; com condições de sobrevivência e com responsabilidade de escolher livremente, mas com consciência. Viver em sociedade já é estar preso, sejamos, pois, ao menos responsáveis.

A sociedade como um todo procura incessantemente a liberdade. Em muitos casos, ela mesma ajuda a distorcer sua procura ao incentivar, por exemplo, o consumismo e liberdades destrutivas como o cigarro. Devemos entender que ser livre não é ausência de limites sem a preocupação com o futuro, mas achar o equilíbrio entre responsabilidade e livre-arbítrio. Ao primeiro caso de engano ainda devo uma resposta. Não se deve ficar insatisfeito por não poder fazer tudo, viver em comunidade já nos limita as vontades. Para ser livre, basta apenas ser um pássaro, preso na gaiola, mas cantando a beleza da liberdade, com maturidade.