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Mônica Brevis Delgado
Criar São Carlos

O coelho branco

O tempo sempre foi um tema amplamente discutido nas escolas filosóficas e literárias, e o seu conceito na sociedade varia de acordo com o momento histórico. Os gregos, maias e egípcios, por exemplo, acreditavam, baseados na ciclicidade dos fenômenos naturais (marés, estações do ano, etc.), que o tempo também devia ser cíclico. Já os persas e hebreus pregavam a ideia de um tempo linear, filosofia que mais tarde foi incorporada pelos cristãos e predominou durante toda a Idade Média.

Essa necessidade de definir o tempo é intrínseca aos homens e, ao longo da história, ele passou a cortá-lo em fatias, apoiando-se em uma visão mais objetiva, dividiu-o em horas, semanas, meses e anos. Assim, rapidamente a invenção de relógios e calendários mais precisos conquistaram o mundo. A ideia de um tempo mensurável foi reforçada pelo advento do capitalismo, que passou a utilizar o conceito como uma forma de controle, sobretudo, nas relações de trabalho, uma vez que o tempo foi associado ao lucro.

A visão industrializada, resumida na célebre frase "tempo é dinheiro", se faz presente na atualidade e é intensificada por outros conceitos tão ou mais dominantes. O capitalismo contemporâneo, por exemplo, prega também a valorização do "novo" de maneira a provocar a renovação constante de objetos, estimulando, portanto, o consumo. Há, também, a ideia de superioridade do futuro e todos se esgotam de trabalho, abandonando o presente em prol de um "futuro melhor", que parece nunca chegar. Assim a roda do capitalismo gira, baseada em trabalho compulsório e consumo desenfreado, esquecendo-se da efemeridade do tempo.

O homem contemporâneo torna-se, então, refém dessa ideologia, que, entretanto não condiz com a subjetividade que permeia o próprio conceito do tempo, pois, existe um tempo imensurável, individual. "Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem", já dizia o escritor francês Marcel Proust. Afinal, as horas e os minutos não poderiam explicar diferentes sensações de tempo, já que, como mostrou Shakespeare, para alguns ele é lento, para outros curto, e, ainda, para os que amam, ele é eterno. É justamente essa contradição entre tempo mensurável e subjetivo que iria um homem preso ao relógio, mas, no fundo, consciente de que o tempo não para.

A concepção de tempo depende, então, de um conjunto de fatores sociais que variam ao longo da história. Na atualidade, por exemplo, predominam os valores capitalistas, que geram indivíduos confusos. Assim, a melhor metáfora para representar o homem contemporâneo seria a imagem do coelho branco, personagem de "Alice no país das maravilhas" de Lewis Caroll, uma vez que esse coelho parece estar sempre atrasado, correndo atrás do tempo, sem perceber, entretanto, que o tempo, entretanto, é que acabará por alcançá-lo.