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Andréa Beltrami Doltrário
Criar São Carlos

Fada Azul

Pinóquio, personagem de um desenho animado da Disney, é conhecido como a marionete que ganha a vida e se torna um menino pelo poder da fada Azul. Como boneco, tinha linhas para ser sustentado e manuseado pelo mestre e não escolheu ser de madeira ou muito menos escolheu suas roupas. Assim como o personagem, nós temos amarras sociais que muitas vezes nos impedem de agir por escolha própria, ainda que, nós mesmos pratiquemos nossas ações.

Tais linhas de sustentação são invisíveis e podem passar desapercebidas ao longo da vida. Representam as leis e as regras do convívio social que foram criadas a fim de estabelecer um bem estar coletivo a partir da abdicação de nossas liberdades plenas. Essa troca foi denominada por alguns filósofos, como Thomas Hobbes, contrato social. Além disso, indústrias fordistas têm uma produção em massa para um consumo em massa e pelos meios de comunicação propagam ideais de tênis, roupas exclusivas, sem os quais poderíamos viver, mas que todos possuem.

Essa massificação nos coloca na condição de pinóquios: somos frutos do meio, como bonecos da sociedade de consumo e das coerções, assumimos personagens sociais a fim de aliviarmos represálias sobre nossa opção sexual ou nossa condição econômica que nos diferenciam muitas vezes da massa padronizada. Comprava-se a idéia de Marcolino em Dom Casmurro "a vida é uma ópera". Reprimimos vontades e instintos naturais para vivermos uma máscara. No entanto, como a repressão não é perfeita, permanecemos num paradoxo: as linhas nos puxam para um lado e podemos querer ir para o outro.

Esse paradoxo é visto nas marionetes; os movimentos são imprecisos e por vezes desengonçados. Na vida, somos assim, contradizemo-nos em discursos, atitudes e sentimentos. Afinal, somos rodeados por dúvidas e nossa condição humana nos garante a dualidade: somos racionais e instintivos. Longe de ser negativa, a dualidade pode colaborar para o rompimento de certas amarras que nos reprimem, em momentos de extravasamento de nossa angústia, como nas revoluções Russa ou Cubana, por exemplo.

Nossas contradições e dúvidas podem nos levar à ruptura com as coerções limítrofes do momento histórico. No entanto, como marionetes de madeira, sentimo-nos imobilizados pelas cordas que nos guiam e, como marionetes humanas, temos a vida, mas não possuímos suas rédeas e esperamos, então, que a fada Azul venha nos soltar.