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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

O sertão ainda vai virar areia

Os países têm temperamentos tão próprios quanto os dos seres humanos. Se Sócrates dizia na "República de Platão" que a alma humana tem três partes - o "eros" que deseja, o "thymos" que se orgulha e o "nous" racional - o mesmo se pode dizer de uma nação. O medo, a honra e o interesse são as motivações da sociedade. É nesse contexto que, hoje, a globalização faz parte da estratégia de todas as sociedades pela sobrevivência e pelo progresso. Assim, juntos, Estados Unidos, Europa e China, os três parecem trigêmeos xifópagos, todos podendo ser prejudicados pelo corte de uma artéria, como uma crise financeira.

De fato, a globalização levou a uma integração ou interdependência política, econômica e cultural cada vez maior entre povos e países. Processo esse que se intensificou com a queda do ex bloco socialista em 1989 e que adotou o Neoliberalismo como prática doutrinária. Porém, na atual crise, vemos técnicas Keynesianistas serem aplicadas como medidas de contenção hemorrágica do sistema. Assim, a psicologia humana e a psicologia dos Estados apresentam inúmeros paralelos. E, normalmente, tanto as pessoas como as nações obedecem a "hierarquia de necessidades".

Essa hierarquia prioriza as necessidades de déficit (as exigências psicológicas de satisfação da fome e da sede), as necessidades de segurança (abrigo e estabilidade) e, por fim, as necessidades do ser (sentimento de integração, respeito e reconhecimento). E a ideologia presente não é a democracia, o capitalismo ou qualquer outro "ismo", mas o sucesso para melhorar a condição nacional. As nações, como os indivíduos, têm uma cabeça, um coração e um estômago e, por meio de uma "diplomacia dos fatos", países subdesenvolvidos tentam chegar aos dois primeiros das superpotências mundiais para ascender-se na produção econômica, na participação no mercado global e nas inovações tecnológicas.

Mas, como consequência da globalização, instaurou-se a crise atual, que deve incitar uma onda de irrefreável protecionismo. Além disso, essa fase crítica tem potencial impacto nas ações que visam à mitigação do aquecimento global no plano internacional e isso tem origem no fato de que os governos norte-americano, europeu e chinês estão gastando muito dinheiro para salvar várias de suas instituições financeiras. Quanto ao Brasil, o possível cataclisma mundial acentua mais a sociedade brasileira como uma ampulheta, com grande população marginalizada na base, e um estreito gargalo, tornando praticamente impossível a mobilidade social desses grãos-de-areia rumo à casta de cima.

A crise financeira não é um desastre natural como o aquecimento global. Ela é consequência de se ignorar os riscos de uma economia não sustentável. É preciso reconstruir as bases que fundamentam o sistema de crédito bancário e monetário do mundo, sendo esses pautados por uma perspectiva na qual o desenvolvimento econômico possa ser mais compatível com a sustentabilidade ambiental. Caso contrário, os Estados, com velocidades diferentes, se confrontarão como os carrinhos de choque dos parques de diversão, levando à falência mútlipla dos órgãos dos trigênicos.