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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

A "ditalíngua" do não pensar

O ciclo da vida se perpetua por gerações. Assim como existiram descendências que vivenciaram a ditadura no Brasil, outras apenas ouviram falar deste período como uma defloração, em menor escala em relação a outros países, aos direitos do homem previsto pela constituição. O fato é que, no presente, vivemos a ditadura do "Ingsoc" (socialismo inglês) de George Orwell. Uma espécie de despotismo que tenta relativizar os eventos em diferentes países para amenizar os efeitos da tirania no Brasil por meio de uma "novilíngua".

A posição, não raro, da massa popular brasileira é de herança colonial quando o assunto é ditadura. É como se houvesse uma tentativa de apagar das mentes os fatos que se sucederam ao golpe militar, substituindo a "anticlíngua" (língua comum), por uma nova forma de falar: a "novilíngua". Esta, composta por três partes: os vocabulários A, B e C, ossificaria a possibilidade do cidadão expandir o pensamento e refletir sobre as mortes, os desaparecidos e a anti-democracia do regime.

Muitas Macabeas circulam por todo país. Como se pedissem desculpas por existir, simplesmente trabalham e, em consonância com o vocabulário B, são reeducadas para a inexistência de palavras como honra, justiça, moralidade, internacionalismo, democracia, ciência e religião. Nesse meio, vagam Fabianos que, não eloquentes, trabalham para garantir a sobrevivência e pouco sabem refutar sobre o que acontecem, de fato, no regime militar e as consequências deste para o cenário político.

A "novilíngua" estabelecia os ideais do "Ingsoc" e promovia o fim de outras formas de pensamento. Assim foi a ditadura que se sucedeu ao golpe militar de 1964. Mas, como é possível denominá-la "ditabranda", se foi austera, além de ter causado mortes e desaparecimento? E o trauma causado aos familiares dessas vítimas? Ademais, vivemos cercados pelos vocabulários A e C, que ratificam o adestramento humano quanto a esquecer o passado no qual muitos padeceram inermes.

É inconteste que a ditadura militar no Brasil não pode ser pautada por dados estatísticos. Devemos replicar sempre pela liberdade de expressão e pensamento, como predizia Voltaire, para evitar que assuntos como o despotismo brasileiro não percam a feição cruel. E, para isto, as atuais e as futuras gerações devem ser conscientizadas sobre esse fato histórico e que a messe atual: democracia, resultou da deterioração de muitas vidas que lutaram, no passado, contra o retrocesso dos ideais franceses: liberdade, igualdade e fraternidade. Tentar mensurar como branda a ditadura no Brasil é aceitar uma "novilíngua" e os abusos à dignidade do homem. Guerra não é paz, liberdade não é escravidão e ignorância não é força.