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Larissa Cocicov
Criar Ribeirão Preto

"Ame ou Deixe"

A traição é personagem principal na história da humanidade, presente em tempos de paz e de guerras. Incentivado pela ganância e pelo individualismo, esse sentimento trás possíveis perspectivas de felicidade uma vez que, ao traidor, resta o legado da covardia e o exílio do desprezo. A essência do respeito e da verdade se mostra escassa na atual sociedade do "parecer", revelando relacionamentos encerrados sob os holofotes do poder, omissos pelas máscaras sociais.

No decorrer de conquistas e batalhas, a história ressalta traições que mudaram o curso de impérios. Do assassinato de Júlio César na Roma Antiga à fogueira da Inquisição, são muitas as delações nas quais o interesse individual se sobrepõe à honestidade em relação ao outro. Não obstante, em tempos de "do it yourself", as relações tornaram-se perecíveis, descartáveis à medida em que deixam de ser lucrativas. Soma-se à apologia do sucesso o hiato existente nos valores morais de nossa sociedade, condenando-nos à desconfiança, à superficialidade, às constantes decepções. "até tu, Brutus?"

A literatura, como forma de expressão, abordou discussões instigantes acerca do comportamento humano frente à abjecção da traição. No humanismo de Gil Vicente, "A Farsa de Inês Pereira" baseou-se na ironia de quem se sujeita à carga de ser enganado. Shakespear condenou o ciúme exacerbado e a insegurança em "Otelo", mostrando que muitas vezes os "iagos" de nossa mente distorcem os fatos e levam à morte a confiança e a cumplicidade; tal como a prosa de Eça de Queiros: Luisa se ilude no idealismo romântico e coloca a estabilidade de seu casamento a perder. Capítulos de uma vida real que deixam rasuras na página do final feliz. Perdidos na liberdade e nas possibilidades, reduzimos nossa existência a uma vida em braile, codificada e coisificada à medida em que nos tornamos cegos para as consequências humanas de nossos atos e usamos o outro como objeto de prazer. Traímo-nos, a nós mesmos, com a hipocrisia do interesse, com a escatológica falta de hombridade, com a destopia do lucro. Vale a ditadura da sinceridade. Vale o respeito. "Ame ou deixe".