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Bruna de Alencar C. Lupoli
Criar Ribeirão Preto

Por favor, um prisma!

"Frase frequentemente rebuscada que se banaliza por ser muito repetida, transformando-se em unidade linguística estereotipada de fácil emissão e compreensão": eis o clichê. Deste, vilão das relações contemporâneas, fugimos com veemência, buscamos originalidade que, por vezes, beira o ridículo para permanecermos alheios ao "lugar comum". Assim, fingimos desconhecer o fato de os clichês serem "máscaras pegadas" à nossa personalidade numa sociedade repleta de juízos de valores.

"Emos", "punks" ou "hardcores". Na música são repletos os exemplos de tentativa de sair do banal, do comum. Tudo bem, pode até existir certa ideologia ou filosofia deixada por trás de estilos extremados, mas hoje é notável o simplismo e a perda de valores e propósitos que um dia geraram os movimentos. Basta caminhar pelas ruas e constatar as generalizações; reclamam por serem rotulados, mas não oferecem resistência à consequente massificação: hoje, são todos "emos", não?

Não resistimos ao clichê de generalizar, e ao tentarmos fugir da mais nova "moda", caímos novamente no senso comum. O dilema: aderir ao movimento revolucionário da vez ou criticá-lo? Tal conflito não deveria existir, pois nada tem de ser radical, esquecemos de ponderar qualidades e defeitos, vantagens e desvantagens. Não podemos fazê-lo, perdemos o senso crítico, a pluralidade de significações e vertentes: agora, ou são todos "emos" ou todos "punks". E os "índios"? Em breve inseridos em um dos dois grupos. Bem e mal, masculino e feminino, homo e heterossexual... os dualismos de uma sociedade heterogênea.

Chega de pregar a liberdade de expressão, de escolhas e de atitudes. Por que não assumimos tamanha medievalidade ainda presente no século XXI? O charão "porque Deus quis" está mais perto da nossa realidade do que as reflexões de pensadores contemporâneos. Irresponsáveis, lançamos a culpa aos clichês: na política, no trabalho, na religião, na sexualidade. Celebramos orgulhosos a inserção da mulher na sociedade formal, mas mantemos uma delegacia especial para eventuais "acidentes"; aclamamos democracia ao cassarmos o mandato do presidente, mas não nos importamos que ele volte ao senado representando-nos. Fazemos dos clichês, não objetos de estudos e reflexões, mas justificativas para a nossa inconsequente alienação.

Pode soar paradoxal cair no senso comum ao se tentar fugir do mesmo. Na realidade, nada mais lógico, numa sociedade repleta de juízos de valores, que estereótipos de fácil emissão e compreensão norteiem o "pensamento" coletivo. Usamos máscaras agressivas como as do "hardcore" ou melancólicos como as do "emocore", mas aquelas que não descolam mais do nosso rosto são os que nos impedem de olhar o mundo como sob um prisma, multifacetado, verdadeiramente heterogêneo e original.