MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Marcelo Cecchini Tasinaffo
Criar Ribeirão Preto

SEM TÍTULO

O quadro Antropofágico de Tarcila do Amaral coloca dois seres sem expressões no centro da tela, estes tem pés grandes, pernas compridas e cabeças bem pequenas, por detrás dessas duas figuras há cactos que as cercam, com formas irregulares ganham aspectos fantasmagóricos tentando encobrir a luz do sol reluzente, amarelado no fundo da tela, cuspindo raios em meio ao espaço da vegetação. Assim ficamos nós mediante nossos medos, com pernas grandes para comer, pequena massa cerebral para pensar, cactos, medos que nos intimidam como fantasmas sem deixar que a luz do sol nos encorage e rasgue a aurora de nossos caminhos.

De toda natureza existem receios, e estes estão sempre a nos rondar e nos afligir, um sentimento camaleônico que apresenta suas diversas facetas ameaçadoras mas ao mesmo tempo representa o mesmo bicho que nos traga. O medo de morrer por uma bala perdida, o medo de perder alguém amado, o medo de animais, o medo do pensamento massificado, o medo de andar de avião ou até o medo de uma opressão ditatorial, todos vêm do mesmo cerne e nos colocam sempre diante de um momento epifânico, da descoberta de nós mesmos.

Em momentos de extrema angústia, nossa travessia se bifurca em dois caminhos distintos sendo o medo esse divisor de águas. Um destes é sermos eternos Fabianos, covardes, submetidos a Soldados Amarelos, sem coragem de enfrentar aquilo que nos oprime, nesse caso agimos com extrema ignorância pois recuamos e retornamos por fim à nossa condição. Já o Burrinho Pedrês, mesmo inferiorizado mediante a outros cavalos, cortou o rio e não temeu, teve seu dia de glória e reconhecimento por sua coragem. Não recuou mesmo sentindo a braveza das águas. Nós ainda que sintamos medo em momentos agudos, é nestes que somos reconhecidos, assumimos expressões e semblantes.

Sentir medo, ter receios é algo intrínseco à nossa natureza, é um sentimento que nos codifica e universaliza como seres humanos. Cabe a cada um porém escolher entre ficar entremeado por cactos fardados de soldado amarelo nos recluindo e submetendo ou por fim usarmos pernas grandes para levantar e fugir das sombras, sentindo o sol da coragem bater em nossas costas nos aquecer para passar águas geladas e bravias de nossa travessia, de nossos pavores.