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Isabela da Fonseca Politi
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Motivos de Piada

Bentinho considera-se duplamente traído. Sua primeira "amiga" e o seu maior amigo, tão extremosos e queridos, acabaram por traí-lo. Ora, resta-nos sentir pena. Mas, não sejamos injustos! Sintamos pena de Escobar e Capitu também; afinal, se o primeiro não estivesse morto, talvez se defenderia da calúnia proposta pelo amigo. Ou mesmo Capitolina, caso não fosse humilhada e ignorada por Bentinho e em seguida despachada como mera bagagem para o exterior, também tivesse ânimo em inocentar-se. Nesse caso, o traidor seria o próprio Bentinho. Engraçado, não é mesmo? Faz-se de vítima, quando, na realidade, é culpado.

O mesmo aconteceu no Brasil Colônia. Sob domínio Português, o Brasil - mais propriamente Pernambuco - é invadido pelos holandeses. Enquanto todos, principalmente senhores de engenho, lutam para resistir à dominação, Calabar passa para o lado dos holandeses e orienta-os, ajudando-os a efetivar a invasão. Traidor, certo? Não, errado. O Brasil era apenas colônia, não podia ser considerado pátria, nação. Assim, Calabar optou por "trocar" Portugal pela Holanda. Nada tão condenável. Por outro lado, os mesmos senhores de engenho que antes tanto criticar e julgaram Calabar, passaram a conviver pacificamente com os Holandeses, tirando proveitos da "hospedagem" desses em Pernambuco. Verdadeiros traidores? Acredito que sim.

Hoje, o povo brasileiro sente-se traído pelos inúmeros políticos que cometem atos corruptos e aproveitam-se da "posição privilegiada" para isentar-se das punições. Um equívoco! Se o Brasil falasse, riria de nós e condenaria-nos por trair nossa nação. Afinal, fomos nós que elegemos quem está hoje no poder. Somos nós que nunca acreditamos que possam existir políticos sérios, preocupados com as causas do país. E, acima de tudo, somos nós que deparamo-nos com a miséria, violência, exploração do trabalhador e ignoramos ou consideramos normal. Traímos os filhos do Brasil. Logo, somos, sim, traidores de nossa própria nação.

A traição, como podemos perceber, é um conceito muito relativo. Sentimento, sem dúvidas, vil, o qual assombra a humanidade desde sempre, justamente pelo fato de o homem estar em intenso conflito consigo e com o mundo ao seu redor. Inspiração freqüente em músicas e na literatura, revela o ponto fraco e humano do homem. Não é preconceituosa, visto que engloba todos os âmbitos: amoroso, social, político...

Trata-se, sim, do mais vil dos sentimentos humanos. No entanto, é necessário ressaltar: pior do que a traição em ato, são os "cegos" que além de julgarem o outro, consideram-se inocentes no quesito traição. Elogiemos de uma vez Calabar e assumamos nossa posição de senhores de engenho. E não nos esqueçamos de que, enquanto sentirmo-nos vítimas de tudo, o Brasil continuará rindo de nós. Seremos então meros motivos de piada.