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Bruna de Alencar C. Lupoli
Criar Ribeirão Preto

Precisamos é de um oftalmologista

Pela televisão, vemos a propaganda de um novo refrigerante, a presença de atores famosos em sua vinheta chama-nos a atenção. Compramos o produto. Grande "surpresa": gaseificado, gosto de xarope adocicado, trivialmente ruim. Pela mesma televisão, somos "convidados" a acompanhar a próxima novela do horário nobre, com aqueles atores e atrizes lindos com seus dentes de porcelana e botox. Outra enorme surpresa: bossa nova, Helena, Leblon. Algo acontece com a nossa memória ou é a publicidade trazendo o velho novo? Na verdade, são golpes certeiros, fórmulas ajustadas ao que se quer mostrar a um público que sabe o que quer ver. Rótulos em série, variando apenas em cores e modelos.

É difícil não se deixar influenciar pela supervalorização da imagem no mundo contemporâneo. Por seus...(que sejam!) seis minutos de fama, no canal de fofocas ou na "web", homens, mulheres e até crianças destituem-se de seu conteúdo e apostam o sucesso em um bom corte de cabelo, uma lipoaspiração ou um comportamento impróprio para a idade. Pressionados pela família, sociedade ou nós mesmos, delegamos à imagem seu papel fundamental: manipular, seduzir, apelando para os sentidos mais vulneráveis de um público influenciável, porém entediado. Precisamos escolher bem a embalagem, garantir que brilhe em cores sempre "novas".

A imagem também tem o poder de chocar, revelar momentos importantes da História. Da queda das torres gêmeas à aparição de uma cantora aparentemente medíocre, mas excepcionalmente talentosa, em um programa de TV, o visual atormenta-nos, exercendo seu exclusivo papel de constante parcialidade, independente de quem o pinta. Ângulos, luzes e personagens traçam o retrato de um mundo sempre visto sob um olhar particular, escolhendo sua cor preferida.

É fato que a adoração à superfície, àquilo que captamos e "interpretamos" de imediato pode prejudicar verdadeiros talentos ou alavancar fraudes em conteúdo. Favorável ou desfavorável, a imagem agrega valores aos lugares, aos seres; valores estes possíveis de transformações quando se conhece a essência ou a sua ausência. "Imagem não é nada, sede é tudo", slogan de multinacional, é um apelo aos sentidos do espectador, mas é contraditória ao estereótipos, ou seja, pintar o cenário da necessidade da bebida. Hoje, sufocamos a verdadeira sede, é o nada; a imagem, vazia em essência, representa a plenitude do mundo imediatista. Alguns rótulos não combinam com o conteúdo; outros vêm como coringas, adaptáveis ao que se deseja, neutros.

Não, a imagem não é o mal do século XXI. Desde o início das relações humanas, julgamos situações e pessoas pela sua aparência. A verdadeira moléstia social do mundo contemporâneo é fundamentar todo o seu investimento pessoal e alheio no que vende mais facilmente: o rótulo. Inúmeras bebidas e telenovelas serão "reinventadas" sob a mesma fórmula. Precisamos de "lentes" sensíveis ao seu conteúdo para que assim valorizemos a verdadeira originalidade do mundo, composta, sim, por imagens por vezes lucrativas, mas também por algo muito mais valoroso: a essência camuflada pelas embalagens toyotistas.