MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Gabrielle Barbosa Anelli
Criar Ribeirão Preto

Boca Seca

Qual a diferença entre ler um bom livro e assistir a um bom filme? Apesar de ambos, invariavelmente, apresentarem uma visão parcial do tema tratado - por serem produzidos sob a ótica do autor - enquanto num filme nos deparamos com "imagens prontas", ao ler um livro somos capazes de criar nossas próprias imagens. As "imagens prontas" são tão reais que o perigo é tomá-las como verdades absolutas: bombardeados no horário nobre, que mostra uma Índia sem miséria e fome, ficamos com a impressão de que o maior problema desse país oriental é saber o sexo da criança que irá chegar.

É inquestionável, portanto, o poder da imagem, já que o primeiro contato com o meio externo é sensorial. No curto tempo dos comerciais deparamo-nos com várias propagandas sem ao menos termos tempo de refletir sobre elas, tornando-nos alvos fáceis do sistema. Este último, então, realiza impecavelmente sua função de moldar "homens parnasianos", aqueles que muito preocupados com o torcer, aprimorar e limar, esquecem-se dos urubus que rondam as crianças famintas; homens que sobem em suas torres de marfim e distanciam-se das questões sociais, pois possuem seus olhos desviados para o consumo.

O problema é que o Brasil possui um dos piores índices de leitura da América Latina, mas as novelas alcançam um ibope de mais de quarenta pontos. A grande massa não sabe quem for Geroge Owell, mas provavelmente se lembra do vencedor do último Big Brother, nunca leram "A megera Domada", mas acompanharam a novela "O cravo e a Rosa" da Rede Globo; nem mesmo se curvaram sobre a leitura atenciosa das ironias machadianas, mas adoraram a recente minissérie "Dom".

E não venham dizer que as vítimas das práticas "imagens prontas" sejam os jovens, que substituíram a atenção dos pais pela televisão e internet. Se a juventude já não é o que era, com certeza a "meia idade" não fica nada atrás. São os primeiros a criticar a nova geração, porém nitidamente buscam assemelhar-se a ela. Querem usar roupas ousadas, freqüentar salas de bate-papo e apresentar-se jovens - nem que para isso sejam necessários litros de botox e um incontável número de cirurgias: esta é a nova - embora velha - "geração bisturi".

Vivemos num mundo em que a imagem é tudo e o sistema beneficia-se disso de forma que torna, tanto jovens quanto os mais velhos, frágeis vítimas. Todavia temos SEDE de educação e de cidadãos - leitores, de cidadãos mais críticos. Não queremos a ilusão ótica de um oásis embora também não queiramos continuar com a boca seca.