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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

Feira das "Desutilidades"

As goiabas caem das árvores. Elas são saborosas e doces. Ao despencarem, as cascas vermelhas arrebentam e as sementes se espalham pela terra. Nesse mecanismo de sobrevivência da espécie, as árvores representam grande parte dos trabalhadores - seres alienados produtores de mercadorias -; a terra na qual os homens se fixam remete à pose e ao controle das elites sobre a produção; e as sementes evidenciam os consumidores - sedentos pela possibilidade de consumo hiperbólico calcado na acumulação do ter e aparentar ser um figo.

Com a Revolução Industrial e consequente avanço e desarticulação dos meios de produção, o proletário passou a se especializar numa determinada parte do processo industrial ao ser "desensinado" quanto a totalidade do conhecimento produtivo. As árvores isoladas em sítios foram plantadas em terrenos diferentes concomitante com suas funções: as goiabeiras só frutificam goiabas; as tamareiras só frutificam tâmaras e assim por diante. O consumo desses trabalhadores - árvores - supre, não raro, as necessidades de sobrevivência.

O capital temerário, na era da globalização, perfilou as estruturas de produção e consumo como Noé ao conduzir a arca rumo a um novo mundo. Acelerou-se o processo de urbanização. Houve uma mudança da mentalidade humana teocêntrica para um contexto antropocêntrico que valoriza o produto e é alienado em relação à produção e aos serviços. As sementes são geneticamente modificadas para produzir frutas durante todo o ano e os donos de restaurantes recebem a mercadoria no intuito de aumentar o comércio e estimular o movimento rápido das caixas registradoras.

O estímulo produtivo de consumo exagerado transforma constantemente indivíduos em vidraças: vemos que, lá fora, aparenta ser uma pessoa que se projeta nas passarelas da moda, estoca sapatos e sandálias, roupas e cosméticos, hábitos e costumes; mas, misturados com eles, a nossa própria imagem refletida no vidro, visível apenas quando muda-se o enfoque de visão para o verdadeiro "eu". Num sentido clássico, a busca pelo puro prazer, desconsiderando gastos supérfluos e exagerados, nos concederia maior intelectualidade e visão ampla.

Os limites do ser humano, ao serem restritos a idílios consumistas, denotam as limitações intelectuais e inefáveis do ser, preso a uma ditadura do ter. Essas bugigangas materiais, muitas vezes, só servem para disfarçar a mesmice genômica da qual todos os homo sapiens fazem parte. O importante, de fato, é conquistar o bem estar e o prazer que não se pode comprar com dinheiro. Após tanto tempo consumindo diversos adubos e se ocultando em terra arada para se transformar em uma figueira, a semente germinou e constituiu uma grande goiabeira.