A arte é uma forma do ser humano expressar-se e também é "uma atividade que supõe a criação de sensações", segundo o dicionário Aurélio. Porém, não é todo expectador que comove-se ou compreende quadros como "A boba" de Malfat ou "Abaporu" de Tarsila. Assim, diante dessa suposta falta de sensações, obras são fortemente criticadas - como ocorreu, no século XX, com as telas citadas - e, até mesmo, denominadas lixo cultural.

Atualmente, questiona-se se o funk carioca é considerado cultura nacional. Tal indagação nasce da comparação, por exemplo, entre músicas de Chico Buarque e da MC. Tati Quebra-Barraco. Enquanto o primeiro apresenta composições com acordes complexos e expõe suas ideias através de metáforas, a segunda oferece batidas estrondosas e letras simples. Diante desses argumentos, este confronto revela-se desigual e, de fato, o é. Esta disparidade ocorre porque: são artistas de gerações diferentes, apresentam estilos musicais contrários, mas, principalmente, porque viveram realidades opostas.

Chico Buarque, pertencente a uma elite cultural, escreveu grande parte de seus sucessos metafóricos no período da Ditadura Militar, em que não se podia expressar ideias contrárias as do governo. Já a Tati Quebra- Barraco cresceu na invisibilidade social da favela e não desfrutou de boa escolaridade. Foi através do funk que ela conseguiu chamar a atenção da sociedade de sua comunidade. Contudo, mesmo tendo vivenciado realidade distintas, tanto Chico quanto Tati utilizam a música para expressar seus ideais e para despertar sensações em seus ouvintes, sejam elas boas ou ruins.

Sendo assim, não se deve julgar manifestações artísticas por meio de comparações, mas sim pela expressão crítica e pela floração de sentimentos que cada obra propõe. Dessa forma, será possível desenvolver uma visão pontual sobre cada manifesto e, talvez, com esse novo modo de olhar, compreender mais claramente as cores de Malfati, o nacionalismo de Tarsila, os sambas populares de Chico e os pancadões de Tati.