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Mayara Cruz Chiquini
Criar Ribeirão Preto

Pedrês à urubu

As espiãs após mais um crime desvendado voam, como urubus atraídos pela carniça, para descarregar o estresse no templo dos templos: o shopping. O desenho animado transmitido pela globo cumpre, todas as manhãs, seu papel de alienar nossas crianças e, concomitantemente, mostra a cômica e tola terapia da sociedade em geral. Cremos na falibilidade das doutrinas de Marx. E ainda nosso verniz cultural é piratear Chico em prol de uma etiqueta Nike.

Um dia de princesa - SBT; 10 anos mais jovem - Eliana, o Vestido de Helena - novela das "oito"; Adeus às rugas em algumas horas - Polishop. Somos seduzidos "25 horas por dia". Consuma! É o eco em nossas mentes. Passamos por uma lavagem cerebral, de fato. Inelutavelmente somos germes da cultura neoliberal que desde cedo nos ensina: o valor do que possuímos aos olhos dos outros é o valor de nossos bens. O que já nos disse o velho Marx há 2 séculos.

Com tamanha sedução nossas crianças já não sabem quem é Dom Quixote - O cavaleiro da esperança. Tampouco conhecem Monteiro Lobato e as travessuras deliciosas da bonequinha Emília e as brincadeiras rústicas e sadias de Pedrinho e Narizinho. Este mundo de fantasia sem custo monetário, mas de enorme valor moral é substituído pelas telas da TV, do computador e do vídeo-game de dois mil reais. Nós adultos também sofremos tamanha atração. Nos travestimos de prostitutas das grandes griffes. Gostamos de comer capim, pois diferentemente das maliciosas "damas da noite" não cobramos nada pela entrega de nosso corpo. Contudo, pagamos para "andar por aí" como personificações de outdoors.

Somos Sinhá Vitória com o brilho orvalhado nos olhos ao pensar na cama de couro. Todavia, deveríamos ser Baleia, de Graciliano Ramos, que sabiamente sonhava com uma vida melhor. Digna essa de quem deveras sabe pensar. Como retificar esta situação desalenta? Não nos deixar atingir pelo condicionamento da mídia requer inteligência. Ser o burrinho Pedrês, de Sagarana, nos exige reaver conceitos: pagamos 600 reais por um par de Nike e pirateamos Chico Buarque por não darmos vinte reais por um CD.

Se ser consumidor nos é tão intrínseco a ponto de sermos tachados "sociedade de consumo", que sejamos o burrinho atraídos pelo mercado do saber ao invés de urubus. Já que isto não nos escapará pelo lixo como faria um produto burguês qualquer.