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Gabriela Ohata
Criar Araraquara

Experiência Inevitável

"A solidão é e sempre foi a experiência central e inevitável de cada ser humano." Thomas Wolfe mostrou com essa frase que em algum momento da vida todos experimentamos o gosto de estar ou se sentir só. Esse gosto, porém, pode ser doce ou amargo demais. O segundo ficou bem claro para Bentinho. Embora ele demonstre, ao longo da vida, ter conhecido muitas "caprichosas", jamais esqueceu sua amada dos olhos de ressaca; logo viu-se de cara com a solidão de sua natureza casmurra. Certamente o que o levou à amargura foi o ciúme exagerado; contudo, muitos são os outros bondes que nos levam a estar só.

Um deles é a tecnologia no mundo atual. Apesar de vivermos no século dos avanços, estamos inseridos numa sociedade solitária. As rápidas mensagens pelo celular e os acenos ensaiados estão cada vez mais impessoais. Isso faz das pessoas robozinhos programados a viver a própria vida, respeitar a própria vontade e muitos outros próprios. Assim, o que predomina é a carência de comunicação e a geração de indivíduos narcisistas.

O bonde da violência trouxe o medo, este por sua vez sob a forma de insegurança. Insegurança que fez das pessoas indivíduos reclusos e que preferem pagar para obter a privacidade dos condomínios fechados. Fechados para todo o exterior e caminho para a solidão. Esta, mais uma vez, egoísta e desigual.

Porém, nem tudo se baseia nos sabores amargos de ser ou sentir-se só. Nota-se, pois, a existência da doce solidão. Na época da famosa Questão Coimbrã, Antero de Quental julgava que o escritor necessitava do pensamento livre. Certamente, muitos escritores e artistas produziram suas obras-primas quando se retiravam da presença de outros para conseguirem um momento de reflexão. A ausência de comunicação, nesse caso, é fundamental para um autoconhecimento, o qual pôde produzir literaturas singulares e construtoras da história de nosso país.

Seja por ciúme, pela tecnologia, por medo da violência ou pelo momento de reflexão, todos estamos sujeitos a esta etapa da vida que é a solidão. Não raro, percebemos a existência de Bentinhos, mas poucas vezes notamos a exaltação do lado bom de estar só. Acredito que não exista uma fórmula para burlarmos a solidão, pois ela está crescendo neste mundo moderno em que o individual prevalece e é uma fase de vida inerente ao homem, uma experiência inevitável.