Em "Admirável mundo novo", Aldous Huxley apresenta uma fábula futurista ao relatar uma sociedade organizada sob um rígido sistema científico de castas. Não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade e com ideologias ministradas durante o sono. Olhando o presente, não é difícil imaginar um futuro semelhante em termos científicos porém, a aparente ordem e admiração frente a este mundo novo colocam em discussão a relação do homem com a máquina.
Desde a invenção da roda, o homem aprendeu a usar e a produzir materiais para atenuar o esforço do trabalho e aperfeiçoá-lo. No ápice da conquista de mercados, as corporações de ofício cederam lugar à especialização da produção e ao maquinário das Revoluções Industriais. Configurava-se o progresso tecnológico que atinge hoje as inúmeras áreas do conhecimento, sobretudo a medicina, a informática e as pesquisas científicas. A possibilidade de uma cirurgia até então descartada, o gerenciamento automatizado e o aprimoramento dos estudos devem-se à precisão, à eficácia e ao auxílio das máquinas.
Se por um lado as conquistas humanas são admiráveis, por outro, corremos o risco de hipervalorizarmo-nas e esquecermos a dimensão do homem. Equiparamo-nos a "máquinas pensantes", desumanizadas, condicionadas e programadas à medida que produzimos em uma rotina mecânica e deletamos o lazer e o questionamento. "Tempos modernos" que se perdem na esteira do mais-valia e ameaçam nossa soberania sobre nossas próprias vontades, sobre o nosso futuro.
Os benefícios da mecanização seduzem até os mais "ludistas", possibilitando mais que um alívio do fardo diário: materializam, a cada dia, um mundo novo. As máquinas são um legado das Revoluções Industriais importante na demanda produtiva e irreversível frente ao progresso tecnocientífico. Todavia, a ficção científica de um futuro subjugado por robôs se encerra diante da peça fundamental ao motor do desenvolvimento: "esse comboio de corda que se chama coração".