MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Larissa Cocicov
Criar Ribeirão Preto

Comboio de corda admirável

Em "Admirável mundo novo", Aldous Huxley apresenta uma fábula futurista ao relatar uma sociedade organizada sob um rígido sistema científico de castas. Não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade e com ideologias ministradas durante o sono. Olhando o presente, não é difícil imaginar um futuro semelhante em termos científicos porém, a aparente ordem e admiração frente a este mundo novo colocam em discussão a relação do homem com a máquina.

Desde a invenção da roda, o homem aprendeu a usar e a produzir materiais para atenuar o esforço do trabalho e aperfeiçoá-lo. No ápice da conquista de mercados, as corporações de ofício cederam lugar à especialização da produção e ao maquinário das Revoluções Industriais. Configurava-se o progresso tecnológico que atinge hoje as inúmeras áreas do conhecimento, sobretudo a medicina, a informática e as pesquisas científicas. A possibilidade de uma cirurgia até então descartada, o gerenciamento automatizado e o aprimoramento dos estudos devem-se à precisão, à eficácia e ao auxílio das máquinas.

Se por um lado as conquistas humanas são admiráveis, por outro, corremos o risco de hipervalorizarmo-nas e esquecermos a dimensão do homem. Equiparamo-nos a "máquinas pensantes", desumanizadas, condicionadas e programadas à medida que produzimos em uma rotina mecânica e deletamos o lazer e o questionamento. "Tempos modernos" que se perdem na esteira do mais-valia e ameaçam nossa soberania sobre nossas próprias vontades, sobre o nosso futuro.

Os benefícios da mecanização seduzem até os mais "ludistas", possibilitando mais que um alívio do fardo diário: materializam, a cada dia, um mundo novo. As máquinas são um legado das Revoluções Industriais importante na demanda produtiva e irreversível frente ao progresso tecnocientífico. Todavia, a ficção científica de um futuro subjugado por robôs se encerra diante da peça fundamental ao motor do desenvolvimento: "esse comboio de corda que se chama coração".