MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Jorge Luiz Carnesecca Sobrinho
Criar Ribeirão Preto

Não tão iguais assim

Todos os homens são iguais? Na verdade, todos deveriam ser. Infelizmente, a organização social da economia de consumo, que reifica o ser humano e enquadra a sociedade em um vasto mercado consumidor, faz o homem indiferentemente diferente. Indiferentemente pois a massa não tem singularidades, visto que o homem tem poucas oportunidades para mostrar sua individualidade. Diferente pois o homem fica dividido em dois grandes grupos: visíveis e invisíveis.

Para estar no grupo dos visíveis basta preencher alguns quesitos sociais, culturais, econômicos e estáticos. Porém, um "emprego reconhecido" e uma satisfatória condição econômica já é suficiente. Infelizmente é por culpa desse grupo que surgiu o outro. Se o homem não tivesse a necessidade de se colocar em um patamar superior ao do seu semelhante não viveríamos hoje rodeados por uma multidão de pessoas que não conseguimos enxergar. Profissionais do sexo, pedintes, usuários de drogas, trabalhadores braçais, invisíveis à sociedade.

Para estar no grupo dos invisíveis, basta não estar entre os visíveis. Indiferença, preconceito, humilhação, marginalização: invisibilidade. No Brasil, a culpa pela situação dos "invisíveis" fica a cargo da "herança escravocrata", uma vez que o trabalho degradante era associado aos escravos. Porém é uma questão que não se limita à história, na verdade a sociedade de consumo criou uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde a função no mundo do trabalho se sobrepõe à pessoa.

Desse panorama temos a explicação para a realidade social, desigual. Da invisibilidade vem a marginalização; grupos invisíveis que não são atendidos pelo Estado começam a se revoltar, eis o gérmen da violência urbana. Das vidas secas que vagavam invisíveis surgem capitães da areia que, para sobreviver, passam a roubar. Da literatura de Jorge Amado e Graciliano Ramos até a realidade dos becos das grandes cidades encontra-se a invisibilidade social.

Todos os homens são iguais. Partir de uma premissa como essa é ignorância. Primeiramente é preciso entender - e aceitar - que democracia não combina com capitalismo, depois aprender a enxergar a banalização a que estão sendo submetidos alguns seres sociais. Aí então será possível pensar em uma organização social que faça com que os homens sejam iguais. Até lá a premissa mais coerente é a que se apoia na esperança de que todos os homens podem, um dia, ser iguais.