Tudo começou com um respeitável público. O "Cirque du Soleil", um verdadeiro "circo moderno", surgiu de uma ideia simples de entreter pequenos vilarejos e se aperfeiçoou até se transformar nessa grande companhia de espetáculos. Cheio de histórias para contar e performances estonteantes, os números sofrem influência do teatro mambembe e do próprio mundo circense. A espetacularização de notícias também se tornou frequente. Há contorcionismos, malabarismos, palhaços e trapezistas, todos maquiados, mas a ideia central, imparcial, deixou de ter seriedade.

O espetáculo dos noticiários se inicia com um concerto criativo, geralmente com elementos de uma história central - uma espécie de telenovela - aliada ao "design" do "show". Uma apresentação marcante ocorreu em outubro de 2008, quando Eloá aparecia encarcerada num apartamento por seu ex-namorado, Lindemberg Alves, em todos os noticiários: televisão, jornais, revistas. No desfecho da encenação, a mídia mostrou os policiais - "respeitável público" - invadirem o apartamento porque não gostaram dos contorcionismos de Eloá e Nayara para se livrarem do opressor.

Menos concentração, pouco raciocínio, menos memória. A nova geração dos noticiários é influenciada pela espetacularização numa ideia de quebra de senso da realidade. Alguns programas exibidos na tevê, como o apresentado por Ratinho, montam uma apresentação teatral com muitos atores realizando malabarismo - grandes palhaços - para mostrar baixaria. E no final da reportagem aparece o tal resultado de exame de DNA. Agora, na mais nova versão do conto de natal, os jornais colocam o governador José Roberto Arruda como o mais novo Papai Noel a entregar panetones de Natal.

O setor de noticiário não para de crescer. Porém, na verdade não há seriedade. Certo dia, numa apresentação de trapezistas, o jornal veiculou a foto de uma pequena aprendiz que morreu ao tentar um número durante os treinos. Era Isabela Nardoni. Uma criança indefesa da qual pouco soubemos. O noticiário só quis mostrar os possíveis vilões da história. Enquanto isso, a pequena morreu em vão. A sociedade não aprende com os erros. Parece gostar mais e mais dos espetáculos e não se preocupa em resolver os problemas nos bastidores: a corrupção virou piada; soterramento de pessoas residentes em morros ocorre em algum lugar todos os dias, para que se preocupar? Amanhã tem mais!

Por isso, por mais que a notícia seja inverídica, inéqua, inveterada, o espetáculo dos noticiários vai persistir pela falta de senso crítico das pessoas. Somente um público alienado pode dar audiência a essas apresentações. De fato, os espectadores, em geral, devem tomar a pílula da inteligência. Tal prática corresponderia a cada pessoa criar sua própria companhia com trapezistas e malabaristas - ter o senso crítico - para manipular e dar audiência com destreza às notícias sérias. Caso contrário, respeitáveis senhores, que o espetáculo continue!