Um rapaz de 16 anos dá entrada em um hospital. Ele sofreu uma crise de cataplexia (um "desmaio acordado") em plena sala de aula. Internado, começa a apresentar novos trejeitos, a voz mudou, os movimentos repentinamente se tornaram delicados. Ninguém sabia o que estava causando esses sintomas. Poderia ser um tumor, mas os exames não evidenciaram algo suspeito. Quem mata a charada é o resmungão Dr. Gregory House: o paciente, na verdade, é um homossexual.
Para muitos telespectadores, principalmente os acostumados a doses diárias desse tal médico de uma série de televisão, tratar o homossexualismo como uma doença, uma anomalia genética, seria a chave para enfrentar essa questão como um problema passível de cura. Destarte, a opinião da grande maioria é de ser consonante com um aborto ou uma "reprogramação" se a sexualidade do bebê apontasse para a direção "errada". Gays e lésbicas que se expõem socialmente, não raro, deixam a impressão de ser uma espécie de alienígena que vê a paisagem das ideias e experiências humanas de modo diferente de todas as outras pessoas. É nessas diferenças que reside o preconceito e a aversão social.
Decorre que homossexuais e afins se comportam diferentemente em relação ao gênero fisiológico ao qual pertencem e isso causa um certo desconforto num mundo onde a maioria das pessoas prefere escutar o que está acostumada a ouvir, o que, frequentemente, não é grande coisa. Quem conhece os gays e as lésbicas geralmente gosta muito deles, desde que mantenham guardados pensamentos, comportamentos e emoções. Porque o que dizem nem sempre deixa as pessoas muito satisfeitas com elas mesmas, num mecanismo de sobrevivência para encobrir as feridas.
Tais feridas poderiam ser a a existência de um homossexual na família ou até mesmo o nascimento futuro de um indivíduo sexualmente "doente". Rotineiramente desqualificamos testemunhos e exigimos comprovação. Isto é, estamos tão convencidos da justeza de nosso julgamento, que invalidamos provas que não se ajustem a ele. Nada que mereça ser chamado de verdade pode ser alcançado por esses meios e é por isso que a operação sexual de um filho deve ser respeitada. Muitos homossexuais, como qualquer outra pessoa, trabalham e são a argamassa que mantém juntos os ladrilhos da própria família.
Nesse compêndio, duas estradas se bifurcaram no convívio social. Os homossexuais e afins pegaram a estrada menos usada. E isso fez toda a diferença a cada noite e a cada dia. Por eles mesmos, livres para decidirem uma opção sexual, se mostram seres intensos, sensíveis e profundamente transformadores do pensamento social conservador. Isso nos faz refletir sobre o poder do preconceito, a grandeza do respeito ao próximo e o sentido de todo o sofrimento que precisamos enfrentar ao longo da vida. A verdadeira anomalia médica é Gregory House, a sociedade.