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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

Doutor House

Um rapaz de 16 anos dá entrada em um hospital. Ele sofreu uma crise de cataplexia (um "desmaio acordado") em plena sala de aula. Internado, começa a apresentar novos trejeitos, a voz mudou, os movimentos repentinamente se tornaram delicados. Ninguém sabia o que estava causando esses sintomas. Poderia ser um tumor, mas os exames não evidenciaram algo suspeito. Quem mata a charada é o resmungão Dr. Gregory House: o paciente, na verdade, é um homossexual.

Para muitos telespectadores, principalmente os acostumados a doses diárias desse tal médico de uma série de televisão, tratar o homossexualismo como uma doença, uma anomalia genética, seria a chave para enfrentar essa questão como um problema passível de cura. Destarte, a opinião da grande maioria é de ser consonante com um aborto ou uma "reprogramação" se a sexualidade do bebê apontasse para a direção "errada". Gays e lésbicas que se expõem socialmente, não raro, deixam a impressão de ser uma espécie de alienígena que vê a paisagem das ideias e experiências humanas de modo diferente de todas as outras pessoas. É nessas diferenças que reside o preconceito e a aversão social.

Decorre que homossexuais e afins se comportam diferentemente em relação ao gênero fisiológico ao qual pertencem e isso causa um certo desconforto num mundo onde a maioria das pessoas prefere escutar o que está acostumada a ouvir, o que, frequentemente, não é grande coisa. Quem conhece os gays e as lésbicas geralmente gosta muito deles, desde que mantenham guardados pensamentos, comportamentos e emoções. Porque o que dizem nem sempre deixa as pessoas muito satisfeitas com elas mesmas, num mecanismo de sobrevivência para encobrir as feridas.

Tais feridas poderiam ser a a existência de um homossexual na família ou até mesmo o nascimento futuro de um indivíduo sexualmente "doente". Rotineiramente desqualificamos testemunhos e exigimos comprovação. Isto é, estamos tão convencidos da justeza de nosso julgamento, que invalidamos provas que não se ajustem a ele. Nada que mereça ser chamado de verdade pode ser alcançado por esses meios e é por isso que a operação sexual de um filho deve ser respeitada. Muitos homossexuais, como qualquer outra pessoa, trabalham e são a argamassa que mantém juntos os ladrilhos da própria família.

Nesse compêndio, duas estradas se bifurcaram no convívio social. Os homossexuais e afins pegaram a estrada menos usada. E isso fez toda a diferença a cada noite e a cada dia. Por eles mesmos, livres para decidirem uma opção sexual, se mostram seres intensos, sensíveis e profundamente transformadores do pensamento social conservador. Isso nos faz refletir sobre o poder do preconceito, a grandeza do respeito ao próximo e o sentido de todo o sofrimento que precisamos enfrentar ao longo da vida. A verdadeira anomalia médica é Gregory House, a sociedade.