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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

Pernas? Por que as quero?

Era coxo de uma perna. Esse pequeno herói popular, um tal menino de rua, desde muito pequeno se escondeu de fortes traumas causados pela sociedade e pelo mundo que o cerca. Muitos outros podem ser amados de verdade, mas ele não. Apanhou muito da polícia e foi ridicularizado por ela. Agressões estas que tornaram esse garoto agressivo, debochador e egoísta. A violência que o rodeia resultou, não raro, do abandono, da deficiência física e da falta de amor. Numa outra visão, menores abandonados simbolizam o brasileiro que, na luta pela sobrevivência, como Sem-Pernas, Pirulitos, procuram por um país que os oriente e os proteja do sofrimento diário e da injustiça que oprime pela miséria e o abandono.

O brasileiro, assim como um operário em construção, possui uma esperança sincera de reivindicar o que é de direito. O patrão - Estado que faz valer a autonomia do país - representa a empresa, mas nunca vê a obra na perspectiva do operário que vê casas, estruturas, objetos, produtos, manufaturas. O importante para o chefe da empresa é a obtenção de lucros. Por isso, é difícil acreditar que a Constituição se sustente na prática e garanta nossos direitos. De fato, a omissão de ações governamentais efetivas originou muitos Sem-Pernas: desde criança desconhecem o carinho materno estatal e são obrigados a viver como homem para sobreviver.

O problema crucial decorre, não da existência de uma população abandonada, mas de uma sociedade que, ao invés de proteger seus menores mais frágeis como João Grande o faz, enxerga a nação com uma eterna síndrome dos "capitães da areia", visando rotular a grande massa como marginal e incorrigível: crianças com a criminalidade arraigada no DNA. Algumas destas, verdadeiros Pirulitos, buscam na religião uma forma de fugir do trágico destino de invisibilidade perante o convívio social. A fé, como uma muleta, guia os abandonados nos momentos de maior dor.

Nesses momentos, o operário percebe que todos os irmãos morreram. Vários foram os idosos que findaram uma fila de espera por um leito hospitalar público. São inexistentes as políticas eficientes de educação sexual para jovens. A velhice, a juventude e a infância se fundiram na conferência de representar meninos que perderam a inocência e foram jogados diretamente nas garras da violência, da bebida, do cigarro, do sexo antes de uma situação mais madura, longe de um estatuto da criança, do adolescente e do idoso com aplicação prática e consistente.

O ciclo de vida do homem deve ser pautado em Joões Grandes: abrangente, forte e com senso de justiça de se destacar primando por proteger os meninos menores: a criança, que renova a população do país e substitui gerações anteriores no trabalho braçal; o jovem, que já possui um senso crítico mas é dependente da família; e o idoso que, apesar de ser coxo quanto às limitações físicas, detém sabedoria para ensinar os mais jovens a crescerem sabiamente. Isto será possível quando o conjunto social aceitar toda a nação como parte dele, meninos de rua, que necessitam de um aparato legal para sobreviver diante das adversidades.