MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Ana Letícia F. Darcie
Criar São Carlos

Desconectados

Quando criança, não gostava de desenhos mal pintados. Coloria todos os espaços do papel com suas mãozinhas trêmulas, admirava sua obra e arremessava-a ao lixo. Ordenava todos os seus bichinhos de pelúcia em posições que, em suas idéias infantis, eram usadas nas grandes apresentações de ballet clássico. A menina divertia-se coma vida cinematográfica de suas bonecas. Lendo, aprendeu a sonhar mais; seus sonhos envolviam-na agora.Não queria que sua boneca se casasse com o boneco mais bonito, pois essa fortuna teria de ser sua. Os filmes muito contribuíram para essa mudança na menina: escondida, passava o batom vermelho da mãe e mandava beijos para seus admiradores imaginários.

Em seus poucos contatos sociais, não suportava o silêncio. Enquanto ela mesma não pronunciava futilidades, sua mente preenchia as reticências do diálogo com palavras que aprendera a desejar ouvir. Sua vida resumia-se a buscar a plenitude, a exatidão, o completo. Sentia um certo prazer em falar ao telefone. Afinal, sabia que as pessoas não podiam vê-la, apenas ouvi-la. E, na sombra, era mais fácil fazer dos ruídos de seu ser boas melodias.

A luz mostrava-lhe diariamente o que ela queria ignorar. Todos os sonhos que ela julgava seus transformavam-se em frustrações quando amanhecia. De mulher resolvida e bem-sucedida que era quando dormia, tornava-se a garota banal quando acordava.

Mas havia uma luz que ela apreciava. A luz da tela. Sempre que imergia nas cores vibrantes dos "sites", sentia que seus desenhos estavam bem coloridos. Sentia-se com nome e, principalmente, sobrenome e mostrava a todos os seus colegas lúdicos como ela era uma pessoa realizada. Nas páginas da Internet, encontrava amigos tão felizes e radiantes como ela e igualmente temerosos de que, ao se desconectarem da rede, suas vidas cinematográficas seriam desligadas.