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Silvana E. de Méo Dilcini
Criar São Carlos

Quíron e Apolo

Quíron, reis dos centauros, metade animal, metade homem, dotado de profundo conhecimento sobre caça, medicina e botânia. Conta a lenda que esse centauro foi atingido por uma flecha e nunca conseguiu curar a própria ferida. Mais famoso é o mito de Apolo, deus da beleza e da juventude. Assim como Quíron, a civilização contemporânea sofre de um mal, cada vez mais prevalente, o qual não consegue solucionar: a obesidade.

Estudos sobre esse assunto mostram que mais da metade da população mundial está com excesso de peso e indicam que quem se encontra nessas condições apresenta maior predisposição a desenvolver doenças, como as cardiovasculares, diabetes e hipertensão.

Se buscarmos a gênese desse fenômeno, encontraremos intimamente ligadas a ele as mudanças na produção de alimentos que se iniciaram no XX, com a chamada revolução verde, que consistiu no implemento de novas técnicas agrícolas. Ao mundo traumatizado pela segunda grande guerra, pela fome e escassez, eram ofertados abundância e variedade de produtos.

Curiosamente, nessa época, o ideal de beleza muda radicalmente. Se antes, a gordura era atraente, a magreza passou a ser o novo padrão estético. Somos hoje, portanto, um reflexo desse bombardeamento de ofertas antagônicas e padrões coercitivos. Se, por um lado, temos a preocupação com a saúde, o bem-estar e a aparência pessoal; por outro, vivemos numa sociedade que nos incita a comer cada vez mais e, com os computadores, tvs e jogos eletrônicos, convida-nos a uma vida sedentária.

E, assim, ironicamente, o consumo exagerado de alimentos estimula a indústria da obesidade, das dietas, das academias de ginástica. Dessa forma, ficamos cada vez mais fragmentados, cada parte vinculada a um destino: parte humana, ao belo, ao ideal apolíneo. Tal como o centauro, incapaz de curar a si próprio, a sociedade atual, a despeito de todo seu conhecimento científico, não é capaz de conter o avanço da obesidade. Sofreremos como Quíron e sentimo-nos culpadas por não sermos Apolos.