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Rebeca B. Carbinato
Criar Ribeirão Preto

Com os pés calçados no chão

Era uma vez, numa terra tão distante assim, no ano de 2037, um grupo de cientistas renomados buscando compreender ainda mais a psique humana lançou seu novo experimento: a menina sem imaginação. Através de câmeras e dispositivos, os estudiosos acompanharam o cotidiano da criança que apesar de ser dominada pela razão, vivia com todas as outras coleguinhas. Coleguinhas? A menina não tinha amigos. Por não acreditar nos monstros e nas histórias infantis, preferia se isolar para desenhar unicamente aquilo que via. Não era persuadida pelas ameaças do homem do saco. Brincava apenas com aquilo que ganhava, pois era incapaz de criar um brinquedo diferente ou inventar algo que destoasse da realidade. Para ela, o lego não fazia sentido e aquele velho barbudo era pura babaquice. Por mais que essa história ainda seja fictícia, ela nos ajuda a entender como a imaginação humana pode ser uma dádiva ou uma arma.

Diferentemente da criança citada acima, por muito tempo pessoas foram persuadidas e controladas por intelectuais que souberam instigar a imaginação dessas e usaram-nas como marionetes para atingir seus objetivos - e até hoje o fazem. Poucos souberam articular a força da imaginação a favor de seus interesses como Goebbels, responsável pelo Ministério da Propaganda de Hitler. Ele convenceu os alemães de que os judeus evoluíram dos ratos e que a raça alemã era superior às outras e, por isso, tinha o direito de dominá-las. Através da imaginação e do apoio popular, Hitler cometeu um dos maiores genocídios da história. Outras ditaduras utilizaram artifícios como esse para governar, pois dificilmente, baseados na razão, eliminariam seus opositores.

Mesmo que a imaginação seja um meio de controle, é principalmente fonte de criação. Como disse o Júlio Verne, "tudo o que uma pessoa pode imaginar outras poderão fazê-lo na realidade". Muitos livros e filmes fictícios hoje se tornaram reais, como o autor de Admirável Mundo Novo, Adous Huxley, que idealizou a "vida in vitro" em 1932 - hoje já amplamente usada. Foi por imaginar o que havia na Lua que o homem se arriscou a verificá-la; foi por imaginar os mecanismos dos pássaros que Santos Dummont inventou o avião; foi por imaginar o máximo conforto que o homem inventou a tecnologia. Sem a imaginação, o mundo continuaria igual; sem sentido como o lego da criança desprovida dessa dádiva.

A garotinha de nossa história, não agüentando a caótica realidade, ficou depressiva e se entregou às drogas, comprovando que a imaginação também é meio de sobrevivência e, portanto, indispensável para o ser humano. Apesar de poder ser usada para fins trágicos, esta é essencial para o desenvolvimento saudável do h9mem e fatos decisivo para novas criações. Como já dizia Pascal, por mais que grite a razão, a imaginação é uma segunda natureza do homem, sendo de extrema importância ser instigada durante as fases da vida humana. A necessidade natural pela imaginação faz com que homem a busque ainda que artificialmente (através das drogas), pois a vida sem ela é como um quadro em preto e branco; é como dançar com os pés calçados no chão.