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Débora de Barros Foggioni
Criar Franca

Jacinto e os escravos

Desde o paleolítico, o homem vem aprimorando suas técnicas de produção. Com o decorrer do tempo, esse processo ganhou velocidade. Passamos por duas revoluções industriais e hoje está em curso a terceira, chamada de Revolução científico - informacional. Assim como nas anteriores, todo o desenvolvimento tem se sustentado com condições mais miseráveis de vida. Analogamente ao neocolonialismo e ao imperialismo, a globalização é o fenômeno que evidencia essa inconveniente verdade e torna questionável o contrabalanceamento entre os benefícios e malefícios da produção de novas tecnologias na humanidade.

O período pelo qual passamos, ímpar em nossa história, é mais complexo do que parece. A quantidade e a agilidade das transformações encurtam o tempo e o espaço, mas, além dessa, deixam muitas pessoas cada vez mais confusas e perdidas na correria de seus acelerados relógios e de seus veículos super-sônicos. São escravos disfarçados desse processo de produção de novas tecnologias. Assemelham-se a Jacinto, personagem de Eça de Queirós, na medida em que era um ser vazio e perdido enquanto dependente desse processo.

Há também outra faceta dessa realidade: a dos escravos explícitos dessa onda tecnológica. Engolidos por ela, tornam-se máquinas que funcionam à beira do colapso, mas que sustentam todo esse sistema. Isso porque, cada vez mais, os diferentes níveis de desenvolvimento tecnológico pelo mundo estão, superficialmente, homogeneizando-se através de uma exploração mais intensa das camadas baixas da população. George Orwell, em seu livro "1984", resume tal situação na seguinte passagem: "Liberdade é escravidão".

Apesar de tudo isso, a humanidade já adquiriu experiências de outras revoluções tecnológicas: não valorizar o humano em si diminuiu e muito o potencial benéfico de qualquer tecnologia revolucionária. Não adianta tanta modernização enquanto a cada 3,5 segundos um ser humano morre de fome. A globalização nos dá a chance de enxergar a necessidade não só de buscar um processo científico - tecnológico, mas também do processo social.

É necessário aprender com o passado vivido: a tecnologia deve estar a serviço dos homens e não os homens a serviço dela. Assim como Jacinto, de "A cidade e as serras", o homem do século XXI deve deixar de ser escravo para estabelecer-se como dono das tecnologias que cria. Está na hora de conciliar progresso tecnológico e social. Está na hora de o criador ser mais importante que a criação.