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Gabrielle M. Mareg
Criar São Carlos

Abaporu

No quadro "Abaporu" de Tarsila do Amaral, a personagem central é desproporcional, enquanto seus pés ocupam quase que a totalidade da tela, sua cabeça representa uma pequena parte. Semelhante à obra de arte é a tecnologia em relação aos homens. Enquanto o desenvolvimento tecnológico ocupa quase que a totalidade do interesse humano, o desenvolvimento da sociedade se restringe a apenas uma pequena parcela dessa tela.

O desenvolvimento humanitário passa ao segundo plano do cenário mundial. Na dialética tecnologia versus fome, a primeira prevalece. Grandes empresários exploram o continente africano à procura de recursos naturais para a criação de medicamentos e construção de máquinas. Mas uma pequena minoria sensibiliza-se ao saber que a cada três minutos e meio morre um ser humano de fome, provavelmente, o mesmo tempo necessário para a fabricação de um novo artefato.

O desenvolvimento da tecnologia, ao mesmo tempo que possibilita o descaso com questões humanitárias, ameniza o mal-estar da civilização. Segundo Freud, não há nada que garanta ao ser humano o sossego e a paz. Para o psicanalista, o mundo vive em constante mal-estar. A informática, criada por humanos, é um meio de escape da realidade para curar frustrações e desilusões, podendo até mesmo ser considerado um tratamento. Assim, a tecnologia, por ser uma extensão da mente humana, suaviza o problema.

O desenvolvimento tecnológico, por amenizar o perene mal-estar, causa dependência. Os artefatos, gerados pelos humanos, possibilitam a ilusão do poder. Criam uma imagem ilusória de que o ser humano é capaz de controlar e conhecer tudo. Criam a ilusão de que todos os fins justificam os meios. Esquecer ou ignorar problemas, como a segurança alimentar, é cabível, se no final houver o aprimoramento da tecnologia.

O desenvolvimento desproporcional da tecnologia em relação ao homem remete, portanto, ao quadro modernista de Tarsila. A tecnologia ameniza o mal-estar da civilização. Possibilita a ilusão do poder, facilitando o descaso à questões humanitárias. Assim, cria-se uma fronteira entre o social e o tecnológico, o primeiro representa a pequena cabeça da personagem de Tarsila e o insignificante interesse da população, o segundo preenche o restante da tela.