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Viviane Raquel Higa
Criar Campinas

A mecanização de Michelangelos

O verbo "trabalhar" surgiu com o verbo "viver", já que, desde os primórdios da vida, o homem passou a esculpir seu mármore para, assim, formar o mundo moderno. No entanto, numa realidade egocêntrica, passamos a esculpir nós mesmos e sempre em busca de nos tornarmos Michelangelos capazes de fazer "Davids", estatuas perfeitas, e quando nos falta ferramentas, no caso informação e conhecimento, ficamos reduzidos a simples projetos. Assim, seja de que grandeza for, nos tornaremos estatuas incapazes de trabalha e, gradualmente, seremos corroídos pelo mundo futurista em que a velocidade transcende a capacidade motora do homem.

Com a Segunda Revolução Industrial, o mercado de trabalho passou a exigir apertadores de parafusos; com isso, alguns lapidaram seus braços e tronco para o serviço braçal, já outros, não contentes com esse status, confeccionaram suas pernas para correr em busca de algo novo, moderno. Assim, com a globalização da informação, surge o verdadeiro artista capaz de esculpir cérebros para armazém e relacionar informações. Surge o homem moderno que se diz esperto e racional.

Com todo esse conhecimento, o ser esperto passou a desenvolver a tecnologia capaz de substituir o trabalho braçal e aumentar a produtividade, entramos na terceira Revolução Industrial. Diante dos progressos, esperava-se que o ser racional aproveitasse o tempo livre para esculpir seus olhos, para analisar a realidade, e seu coração, para não se desumanizar. Porém, num contexto de competitividade e superioridade, o homem quis tornar-se grandioso, Michelangelo, dessa forma, deu prioridade ao aperfeiçoamento do cérebro para criar obras fantásticas, como os robôs da atualidade capazes de fazerem tudo. Mas, sem os olhos para enxergar a realidade, a essência do homem, o trabalho, é roubada pelo próprio produto.

Assim, a tecnologia desloca o trabalho braçal dos apertadores de parafusos, os quais passam a desintegrar-se por sede de vida e fome de trabalho. A lapidação de seu mármore é interrompida, restando apenas o projeto da escultura, que é invisível aos olhos modernos, superficiais, os quais exigem grandiosidades. Já os criadores de tecnologia, que se incorporam em protótipos de David, serão para sempre submissos a ela e, por que não, destruídos pela mesma. Dessa forma, encerra-se cansativa conjugação do verbo "trabalhar" e, consequentemente, do "viver".

Portanto, caminhamos para o mundo das máquinas, onde o mármore que era para transformar-se em anexos para o homem, tornou-se o próprio homem, estatua incapaz de agir. Já os robôs, seus rápidos que se encaixam na realidade futurista, serão os Michelangelos do futuro, pois, para construírem outros seres pertinentes a nova realidade, irão martelar as estatuas abandonadas dos apertadores de parafusos e os Davids, pobre seres cegos de realidade. Assim, o mundo será da tecnologia, restando apenas o pó da vida e do trabalho.