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Flávio Rodrigues Alves Neto
Criar Franca

A quimioterapia social

Os brasileiros somos um povo trabalhador, unido. Na realidade, somos uma grande mentira. Policarpo Quaresma saudava uma sociedade paradoxal: miscigenada e, ao mesmo tempo, com o gene cancerígeno do preconceito racial incrustado em seu material genético, desde sua formação até os dias atuais.

Durante o período colonial, o Brasil passou a receber escravos negros para trabalhar em lavouras canavieiras. Padre Antônio Vieira era a favor, já que Portugal lucrava com o tráfico. Entretanto, cometíamos um crime à integridade humana e demonstrávamos uma ingratidão para com a biologia por desrespeitar sua maior criação: o "crossing over" e a variabilidade genética.

Com séculos de difusão negra no Brasil, ficou inevitável uma miscigenação. A abolição da escravidão dissolveu a camada de escravos da pirâmide social, porém alargou a dor dos pobres. Longe das fazendas, passaram a morar nas periferias, onde infelizmente, ainda mora grande parte dos negros brasileiros do século XXI. Ao mesmo tempo que estão longe do centro da cidade onde está a casa de Policarpo, ficam excluídos de programas sociais de segurança pública e à deriva da violência.

Como forma de compensação, esmolas são distribuídas a esses desamparados. A mais famosa, e até mais polêmica, é a reserva de cotas em universidades federais e estaduais para negros. Ao invés de homogeneizar a educação, abrangendo mais pobres e, consequentemente, mais negros, o governo lhes dá pequenas migalhas de um banquete reservado a burgueses.

O racismo no Brasil está vivo como um melanoma na pele humana. Não há razão para culparmos a pobreza dos negros de hoje aos seus antepassados escravos. A história flui e é só com a educação que o Brasil vai apagar esse passado, para mudar o presente e ter um futuro igualitário. Policarpos ainda não podem ter orgulho de sua nação. A nação precisa de uma quimioterapia social.