MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Mariela P. Graner
Criar Ribeirão Preto

De Fabiano a Graciliano

No quadro "La Charité", de Willian Bouguereau, está cercada uma mãe cercada por filhos, sendo que um deles está debruçado sobre alguns livros. Como esse menino, Fabiano, personagem de "Vidas Secas", ao tentar imitar as palavras difíceis e o modo de falar das pessoas da cidade e seu patrão, Tomás da Bolandeira, explicita a busca da cultura que é um bem necessário. Tal como muitas pessoas hoje, além de sofrer preconceito social, Fabiano sofre também preconceito lingüístico ao utilizar palavras erradas e frases desconexas. Por esse motivo, ele não consegue se expressar e, assim, não tem capacidade de lutar pelos seus direitos e nem de ascender socialmente, já que não tem condição de arrumar um bom exemplo. Certamente, alguém deveria contar sobre os benefícios da "fala correta" aos lingüistas...

O livro didático de língua portuguesa "Por uma vida melhor" distribuído pelo MEC e adotado por mais de 4000 escolas do pais, incentiva alunos do Ensino Fundamental do programa EJA a falar e escrever errado, sob o argumento de que é preciso "valorizar a linguagem do grupo social". Além disso, erros de concordância são incentivos e aceitos por Heloísa Ramos, autora do livro. É obvio que existem variedades lingüísticas devido aos regionalismos, por exemplo, e elas podem (e até são) citadas nas instituições como um modo "diferente" de expressar-se, porém não significa que essas formas de linguagens sejam certas e que vão propiciar melhores oportunidades. Aliás, há muitos advogados ou engenheiros que não saibam usar a língua culta e que são bem sucedidos? Creio que não.

As cortes francesas dos Bourbon estabeleceram os bons modos como distinção social. A burguesia, quando chegou ao poder a Revolução Francesa, procurou imitar a nobreza na questão das regras e uma das maneiras de conseguir status era justamente é bom domínio da língua alta. Felizmente, essa realidade não mudou e para alcançar a ascensão social é necessário ter um bom vocabulário. Por isso, ao corrigir um aluno por falar errado, a professora não está cometendo um preconceito lingüístico, mas apenas ajudando-o a progredir e contribuir para o futuro do país, segundo Evanildo Bechara.

Dessa forma, o preconceito lingüístico existe sim e nós o cometemos ao ridicularizar, mesmo que não explicitamente, uma empregada doméstica falando "bassoura" eu ao perdermos a credibilidade em um médico que diz "probrema". Realmente, a mídia deve disseminar mais o conceito de "variações lingüísticas" para que o preconceito seja atenuado, contudo, ter uma atitude menos excludentes com os indivíduos que utilizam-se essas formas variadas não significa que tal padrão deve ser ensinado na escola, aliás, pelo contrário, cada vez mais o ensino nas instituições públicas, principalmente, necessita de reformas e melhoras. É preciso que busquem o saber, como o faz o menino do quadro de Bouguereau, pois só com o domínio da língua culta os menos favorecidos serão libertados, inseridos no mercado de trabalho e conseguirão ter melhores oportunidades, deixando de ser simples Fabianos e tornando-se grandes Gracilianos.