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Luiz Paulo Correia e Silva
Criar Araraquara

O casamento

As minúcias proféticas do filme "Matrix" mostram uma espécie de casamento entre a natureza e o instinto de morte dos homens, panorama de destruição representado no ano de 2099. Tal espetáculo é enfatizado quando o personagem Smith destitui o homem de sua função de mamífero, equiparando-a a de um vírus. Nesse contexto, as ações parasitas antrópicas evidenciam sua fragilidade ao desafiar o fundamentalismo ambiental: o consumo, o interesse, a educação e o hedonismo parecem ser o epitáfio de valas indigentes de um futuro fúnebre, mas ainda com certa esperança.

Zygmunt Bauman diria que vivemos em uma sociedade líquida: a descartabilidade globalizada demarca o ciclo do novo pelo novo e promove o nascimento dos "Homo consumens". Devorar um Big MC, estampar-se de Lacostes e vestir Ferraris são as grifes de insônias causadas pelo máximo alcance das modinhas. Ao visar ao lucro (apenas), a maioria das grandes empresas une a ganância ao interesse político, exaltando um capitalismo insustentável repleto de montanhas de lixo, isenções fiscais e leis ambientais mancas, que desdenham da vida e do equilíbrio - na natureza, todos os dias são 11 de setembro. Logo, vemos que somos meros valores mercadológicos de um sistema individual. Somos a ânsia pela inclusão na liquidez, calcada no status e na desigualdade. Somos a inversão de valores e a falta de educação.

Essas, no filme "Cronicamente Inviável", relacionam-se ao grande instrumento de dominação autoritária, a felicidade, cuja essência remonta ao hedonismo. Enquanto usufruímos de um tênis Nike, crianças o produzem em meio à insalubridade. Enquanto fazemos nossos churrasquinhos, árvores tornam-se carvão nas mãos de mais crianças. Quanto mais "civilização" e tecnologia, portanto, maior é a árvore genealógica da pobreza. Do petróleo que escurece os oceanos aos gases mutagênicos que respiramos, permanecemos inconsequentes e felizes perante a asfixia do planeta. A água que bebemos é a mesma que acaba com a fauna, engole morros vivos e abre crateras e abismos, todos frutos de um planejamento urbano doente. Em berços esplêndidos, substituímos o "Todo Poderoso", que parece estar enfurecido.

Jazemos, assim, entre as obras de Deus e do homem: após Hiroshima e Nagasaki, o Japão sofreu sua 3ª bomba atômica vinda do mar; após a ocupação descabida, a região Serrana do Rio acabou em lama. Estamos diante de um "feedback" homem-natureza, em que esta, de forma sobrenatural ou não, responde à altura. Nesses "tempos de fezes", Drummond encontraria uma "flor no asfalto", nossa esperança. Estariam a Amazônia e o Jequitinhonha livres da desertificação? Quando o Golfo do México e as geleiras retornarão ao natural? Haverá fim para as queimadas? Em meio à síndrome da incompetência, picos de consciência nos trazem a queda do desmatamento, algumas "reformas de carbono" e certa fiscalização. Mesmo assim, a "ficção" ainda supera a realidade, o maior perigo para o adiantamento de 2099, cenário absolutamente sem flores no asfalto.

As minúcias proféticas do filme "Matrix" concretizam-se na produção em série de seres voltados para e pelo consumo - são os vírus de Smith, selecionados nos valores do capitalismo insustentável. Não cronicamente, mas realmente inviável é o casamento da natureza com o instinto de morte do homem, cujos convidados fomentam os interesses e a liquidez na vibrante felicidade do "carpe diem". Rezemos, pois, para que as "obras divinas" não ajudem o ser humano a transformar o mundo em uma Sendai e para que as flores de Drummond cresçam sobre as valas indigentes (futuras).