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Marina Cau Ucella
Criar Ribeirão Preto

Caminha áurea para um final incompleto

A autoestima no mundo hodierno é submetida aos imperialismos do mercado. Suas altas e baixas acompanham os índices da Bovespa ou Nasdaq e o bem estar pessoal é reflexo de sucessos econômicos, vitórias, aumentos e promoções. Cria-se um círculo: para ser bem-sucedido é preciso ter elevada autoestima, para ter elevada autoestima é preciso ser bem-sucedido. Nossos parâmetros sobre nós mesmos já não são próprios e a autoestima já não é "auto", mas "extra". Só a ratificação do sistema comprova o quão bons, ou ruins, somos.

Como em "O Mágico de Oz", o capitalismo criou um caminho de ladrilhos dourados a ser percorrido por aqueles que almejam o sucesso no sistema. Reforçando o círculo infinito, só mantendo-se nesse caminho é possível ter elevada autoestima. Entretanto, a vida não possui uma única rata e muitas vezes temos que percorrer outras, tomando novas direções que não seguem o trajeto "padrão". O paradoxo entre a áurea fantasia mercadológica e a realidade cria indivíduos frustrados, dada a impossibilidade, natural e fatídica, de mantermo-nos sempre no caminho ditado. Fora dele, a "extraestima" é solapada: somos incapazes, fracos, perdedores.

Essas frustrações nos impelem a esforços sobre-humanos para voltar ao caminho "certo", tão glorificado. Nele, a "autoestima-produto" eleva-se proporcionalmente aos dividendos gerados por nosso sucesso. Seduzidos pelo caminho dourado, contudo, esquecemos-nos daquilo que, primordialmente, buscamos: a felicidade. Será ela, de fato, um sinônimo do sucesso alardeado? Na maioria das vezes, não. Países ricos e desenvolvidos, como EUA, Canadá e Noruega, sofrem com altos índices de depressão entre os seus habitantes. Nos EUA, em particular, o seguimento de livros de "auto-ajuda" cresceu cerca de 150% entre 2010 e 2011. Agarramo-nos ao caminho do "sucesso-padrão", elevamos, momentaneamente, nossa autoestima com os mimos do mercado, mas, no final, não raro, sentimo-nos ainda mais infelizes e frustrados.

No conto de L. Frank Baum, o Leão, o Espantalho, o Homen de lata e a pequena Dorothy percorrem os ladrilhos dourados em busca daquilo que os completará. Coragem, um coração, um cérebro, a casa perdida, enfim, falta-lhes algo para serem felizes. Atualmente, nós, infelizes homens, percorremos um caminho imposto, que nos faz basear nossa autoestima em um sistema que não estima ninguém, a não ser ele mesmo. Perdidos na áurea círculo infinito, sempre nos submetemos na esperança de alcançar a felicidade prometida e a ratificação que comprova nosso valor. Entretanto, parece que sempre nos falta algo: talvez seja a coragem de tomar novos rumos e retomar a posse da estima que nos foi roubada.