MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Luiz Paulo Correia e Silva
Criar Araraquara

A Pedra

Não obstante muitos conhecermos a famigerada "pedra no caminho", conteúdo poético de Drummond, ninguém é tão familiarizado com a mesma como Sísifo, personagem da mitologia grega obrigado a rolar tal objeto em um declive infinito. Obstáculos, todos temos desde crianças, todavia, a embriaguez de nosso contexto social tende a multiplicá-los: o (ciber)bullying delineia o produto de uma barreira sisífica, cujo ciclo impõe relações familiares e sociais destrutivas. Nelas, a ignorância e a superproteção fraternas, a educação (escolar) aleijada, a mitificação e a banalização midiáticas constroem caminhos movediços.

Atualmente, o espetáculo de uma mídia pseudocientífica possui forte influência na personalidade social: a criação de mitos e padrões emana, por vezes, a intolerância - o australiano (e gordo pecador) Casey Heynes é a sobra de um "dogma religioso". Bastou o jovem, enquanto era zombado e agredido, golpear seu inquisitor para que o vídeo repercutisse em diversos meios de comunicação e que um deles mitificasse o "Zangief Kid", referência a horrendo lutador dos games. Em meios a risos e repúdios, o problema revela sua seriedade na medida em que essa grande pedra psicossocial transpõe o caminho de qualquer aprendizagem, relegando o indivíduo à exclusão e à depressão, que passa a afetar toda família. Esta, aliás, pode ainda ser vítima da banalização do termo bullying e se afundar no desespero do idealismo superprotetor.

"Estou sendo vítima de bullying", disse o deputado Roberto Requião ao ser questionado por um jornalista. Imbecilidades como essa são o combustível para a ignorância absorvida por muitos pais que, ao associar quaisquer dramas à referida palavra, passam a superproteger os filhos, destituindo-os dos mecanismos naturais de defesa e convivência. Ao invés de concretizar o respeito e as diferenças na educação, famílias "pilhadas" e alienadas alimentam uma indústria transgressiva, ou seja, empurram a pedra em declive infinito. O ímpeto de liberdade saudável é, então, travestido por um ciclo: "baleia assassina", "viado", "nerd", "neguinho", "pobre"... fanatismo moral segregador, pais excessivamente alarmados e, muitas vezes, descaso escolar são seus componentes.

Brian Perkins, professor da universidade Columbia, diria que 90% do mau comportamento de alunos é resultado de um aleijado programa de ensino e que a banalização do conceito bullying, malgrado as ignorâncias, focaliza o problema. Com o advento tecnológico, vimos a velocidade de um narcisismo digital global trazer o "politicamente aceitável" e engraçado às redes: saudações ao execrável rodeio das gordas, felizmente punido pela Unesp. Questionamos, pois, qual seria o limite ético da libertinagem e do anonimato digitais? No mesmo impasse, passamos a refletir sobre a grade escolar que, imbuída por ocupações construtivas e debates familiares, poderia limitar a repetição de relações sociais movediças e, talvez, evitar chacinas.

Como Sísifos, muitos continuamos a empurrar a pedra do (ciber)bullying na medida em que ações desesperadas e inúteis mantêm o ciclo opressivo. Como um dogma religioso, a padronização cria mitos e esvazia conteúdos, ação fomentada pela ignorância e por um sistema de ensino caduco. Os naturais mecanismos evolutivos de convivência são travestidos pelos "verdadeiros" obstáculos - a mídia do espetáculo, "ditadinhos" de políticos burros, falta de debates e banalizações rasteiras, mas minimamente úteis.