Franca, 23 de agosto de 2004

Senhor presidente

Luiz Inácio Lula da Silva

Meu nome é Tito Lívio, sou estudante do primeiro ano de História na UNESP em Franca. Li uma entrevista do senhor à revista Época de 17/08/2004, sobre a criação do Conselho Nacional de Jornalismo, em que o senhor chama os jornalistas de covardes, pois eles não são a favor deste Conselho. Depois disto resolvi escrever uma carta ao senhor para dizer o quanto o senhor está equivocado.

Ao longo da História, controlar os meios de comunicação foi uma grande estratégia adotada pelos donos do poder. Pois tendo esse controle, eles podiam divulgar apenas o que fosse de seu interesse, pondo fim à liberdade de expressão e moldando a sociedade à sua maneira. É isso que o senhor deseja ao tentar "orientar, disciplinar e fiscalizar" o trabalho da imprensa?

Eu não sei se o senhor sabe, mas Getúlio Vargas também tentou "orientar" o trabalho da imprensa. Na época do Estado Novo (1937 a 1945) ele criou um órgão chamado DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que tinha a finalidade de controlar os meios de comunicação e expor apenas a sua ideologia.

Até a Igreja tentou disciplinar a população, se o senhor não sabe. Na contra Reforma no século XVI, a Igreja criou o Índex, uma lista de livros proibidos para os fiéis. E com isso, a Igreja pôde fechar os olhos dos fiéis para o conhecimento e continuar com o domínio sobre eles.

O senhor já presenciou e até lutou contra esse tipo de controle. Lembra da época da Ditadura quando os militares fiscalizavam todos os tipos de produção, tanto literária, quanto cinematográfica e até as matérias que saiam no jornal? Essa era a forma que eles utilizavam para manter seu regime sem uma oposição explícita.

Portanto, senhor presidente, os jornalistas não são covardes. É o senhor, que está com medo do que uma imprensa livre possa fazer contra o seu governo. Adam Smith dizia que a economia funcionava por si mesma, como se houvesse uma "mão invisível" controlando-a. E é isso que eu peço senhor presidente, deixe a imprensa trabalhar livre, pois ela própria, irá se orientar, se disciplinar e se fiscalizar.