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Gustavo Felipe Guarin
Criar Ribeirão Preto

Ordem, Progresso e Covardia

O medo corresponde a um agente que inibe ações mais ousadas, impedindo a existência de uma evolução humana, diz o senso comum. Entretanto, pode-se analisar tal sentimento como uma importante ferramenta humana capaz de nos tornar criadores de artifícios que nos auxiliam e nos mantêm seguros. Hoje, o temer é a base não só de grandes descobertas, mas também é causa de muitos atos violentos e serve como pilar de controle e alienação de boa parcela da população.

"A noite ascendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão". A frase de Mário Quintana nos remete a pensar sobre a principal função do medo humano. O homem assume o papel da noite e cria ferramentas - como o caso do fogo e, mais recente, descobertas de antibióticos - para se proteger das condições impostas pela natureza e pela física. Dessa forma, o medo é um agente motriz importante para que o homem saísse da condição de mero animal para chegar a dominador do planeta.

Por outro lado, diversas instituições usufruem o temor para manutenção de seu poder sobre a população. Em "1984", George Orwell denuncia tal capacidade do estado de distribuir medo em seu povo com o intuito de esse ser o alicerce de seu poderio político. Fora do Universo fictício da obra, mas de maneira análoga, a chamada "Cultura do medo" dita o modelo de vida a ser seguido para manter-se seguro e alienado. É fundamental o papel mediático e publicitário nesse contexto, pois somos bombardeados diariamente com seu sensacionalismo diante das mazelas sociais, tais como a violência urbana, epidemias e catástrofes naturais.

Além disso, o materialismo do homem moderno é um fator que acentua o medo da perda. Perder seu status sócio-econômico significa muitas vezes perder seu orgulho. Portanto, em momentos de crises econômicas como a atual, a aversão a estrangeiros e o grande número de suicídios convergem no temor de abdicar seus bens materiais, havendo necessidade ou de culpar alguém por isso, ou de sair dessa condição através da morte. E, infelizmente, ambas situações deixam de ser medo e passa a ser covardia.

Utilizar o medo como instrumento de opressão e alienação pode ser eficiente na política para manter a ordem. Contudo, o medo também pode ser um combustível para as criações humanas as quais buscam tirar o homem de sua impotencialidade diante da natureza. Infelizmente, a utilidade do meio é limitada e quando o homem passa a cometer violências e preconceitos para manter seu status, o medo transforma-se em mera covardia.