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Felipe Orsi Ceribelli
Criar Ribeirão Preto

Pulsação de Hobbes

A velocidade com que as hemácias fluem por vias e artérias reduz-se excessivamente, o cérebro já não organiza mais as ideias com precisão e o coração parece ter sido tomada por chagas. Seria um indivíduo aproximando-se da sepultura? Negativo: trata-se da grande cidade desumanizando a sociedade através dos males que a corrompem no terceiro milênio. O espaço urbano beira o caos e o motivo majoritário tem sido a falta de planejamento estatal. Apesar de ter se tornado o local ideal para ascensão econômica ainda mostra-se inóspito frente à falta de senso de civilização que caracteriza certas comunidades.

A metáfora perfeita para a cidade do século XXI é exatamente o corpo humano deteriorando-se. O poder estatal, órgão pensante do meio público se concentra degenerado pela corrupção, as veias e artérias congestionadas como ruas e avenidas das maiores cidades do planeta e o proletariado (coração da sociedade) prejudicado pela selvageria imposta pelo capitalismo financeiro ampliado pós Guerra Fria. As mazelas urbanas tornaram-se infinitas como cortiços, favelas e péssimo saneamento básico, não obstante, como em qualquer tempo ou espaço, a classe desfavorecida sofre as mais graves consequências do processo.

O cérebro, poder estatal, que deveria funcionar gregariamente ao resto do corpo está danificado é individualizado. Quando a verba pública não é desviada para contas pessoais; o planejamento é mal feito e consequentemente o dinheiro mal investido. Seria tudo tão mais simples se nossas cidades fossem monitoradas por um "The Sims" ou será que alguém sonhava construir um cortiço como de João Romão, deteriorado e com relações totalmente opostas às da parte modernizada do espaço urbano no jogo? Necessita-se que o governo pense como se estivesse plantando uma palmeira: dificilmente sentará à sua sombra, porém as gerações futuras desfrutarão do projeto previamente estabelecido.

Mas não, o ser humano perde suas características altruístas com o aprimoramento dos meio tecnocientíficos, tornando os laços sentimentais menos duradouros como exposto pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman na obra "Amores líquidos". As classes sociais periféricas, menos inseridas nesse processo de globalização, quando não são faveladas, ainda nem reside nas cidades; e mesmo que menos informadas permanecem com os conceitos mais nobres da penalidade humana fixadas. Fabiano, personagem de Graciliano Ramos em Vidas Secas, apesar de ignorante sabia que devia se proteger glóbulos brancos das cidades (os policiais), demonstrando claramente que o espaço urbano não tem para alguns o poder de civilizar e sim de reprimir e desumanizar.

Milhões de Fabianos deixam o campo e migram para as cidades mesmo compreendendo os riscos de urbanizar-se, o governo, por sua vez, nunca agirá feito um programador no famoso "The Sims"; os glóbulos brancos continuarão abusando do seu poder de defesa. Já o coração permanece sendo o mais prejudicado: o proletariado torna-se alienado e individualista, sendo assim não há mais espaço para "hobbies", apenas para a maestria de Hobbes visto que os homens se transformaram em lobos, lobos dos próprios homens, e o pulso... ainda pulsa.