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Clara Martinuze Martins
Criar Ribeirão Preto

Rainha de copas e seu poder do flashback

Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, (...), Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma. A história brasileira apresenta uma lacuna coberta por um manto de silêncio. A ditadura militar instaurada no Brasil em 64 estendeu-se até os anos de 85 e pouco se sabe a respeito. Até mesmo a atual presidenta fora torturada por pessoas hoje protegidas pelo silêncio. A Comissão da Verdade deve vir, mas não como uma rainha de copas, nem tampouco como um simples "flashback".

Na obra "1984" de George Orwell, não haveria a necessidade de uma Comissão da Verdade, já que o Estado modifica e deleta quase que por completo o passado no Brasil; entretanto a Ditadura militar representa senão um branco, um ponto de interrogação na história. O resgate ao passado é assegurado pela frustração da ausência de ruptura ao processo político, e pela questão da impunidade que, ironicamente, tanto incomoda os brasileiros seria, portanto, uma forma de anestesiar a angustia de uma sociedade que (quase) nada sabe sobre os pilares que a sustenta.

Em outros países da América Latina, a brutalidade marcou as diversas transições políticas. No caso da Argentina, as vítimas do "voo da morte" têm hoje, seus nomes registrados em Buenos Aires. É o que falta para o Brasil. O reconhecimento de um passado vergonhoso tornaria o presente melhor visto pela sociedade, Entretanto, a Comissão carrega consigo uma falha. Por trabalhar apenas como mentora de um "flashback", não haveria julgamento de nenhum torturado.

Seriam, portanto crimes perdoados? O Estado estaria agindo como uma Rainha de Copas, cortando as cabeças antes de julgá-las? O resgate deveria ser feito e julgado para que não se legitime crimes hoje cometidos. O fato de o Estado deixar seus laços com o "Grande Irmão" de "1984" é uma vitória, mas caso se omita também assumirá uma responsabilidade. É necessário retirar o manto do silêncio, parar de tampar o sol sem a peneira.

Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Castelo Branco Costa e Silva, Médici, Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Que o Brasil saiba retirar o manto e preencher a lacuna. A Comissão da Verdade deve vir para auxiliar a criação de uma identidade nacional, evitando legitimar crimes atuais posteriormente. O Brasil precisa reconhecer seu passado para glorificar seu futuro. Nem Rainha de Copas, nem meros "flashbacks" conseguirão alcançar o que ainda falta para dignificar o Estado Brasileiro.