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Maria Clara Artiaga
Criar Ribeirão Preto

Trabalho de Sísifo

O símbolo da classe trabalhadora do século XXI, de executivos a operários, é o café. É a bebida mais consumida no mundo depois da água, devido ao seu efeito estimulante, que ajuda as pessoas a aguentar sucessivas horas de trabalho, de forma disciplinada. Utiliza-se do potencial do café a fim de encontrar autonomia e de acumular bens e se abandona a necessidade humana de lazer e de descanso. Apesar de voluntário, esse modo de vida é adotado por causa da mentalidade e dos mecanismos impostos pelo capitalismo.

A burguesia nos mostrou que o trabalho é uma forma de quebrar a hierarquia social e de ascensão. Ela que sempre sustentou o rei e a nobreza parasita, na Revolução Industrial, tem a consolidação de sua ascensão. O burguês cria um espaço produtivo especializado para o trabalho, a fábrica, onde o trabalhador é submetido a um rigor disciplinar, a um controle e a degradação de suas condições de existência. Ou seja, aquela classe que se libertou de uma sociedade estratificada realizou o mesmo quando chegou ao poder. As pessoas são como o Prudêncio de Brás Cubas, quando se vê livre, faz a mesma coisa.

Quando se trabalha muito, não se tem tempo para pensar e é essa consequência que o sistema capitalista se apropria para alienar as pessoas. Como reforço para alienação, utilizam-se da internet e da televisão, com as propagandas incentivando o consumo; e, assim, as pessoas pensam a associar lazer a televisão. Da mesma forma que Atlas, os trabalhadores sustentam o mundo e, inconscientemente presos a um sistema coercitivo, abstraem-se do lazer sem questionar sua importância. Em "O cortiço", a personagem Bertoleza simplifica esta atitude comum dos dias de hoje. A escrava sustenta o João Romão e não disponibiliza tempo para o lazer.

O trabalho é pensar no futuro e, atualmente, é a acumulação de dinheiro para poder assumir mais. Já lazer é o tempo do presente que sobra. Esse é o grande problema, não há sobra de tempo, apesar dos avanços tecnológicos, que supostamente sugiram para facilitar, agilizar e substituir o trabalho humano. Fica-se ainda mais ligado a ele através de celulares e email. A tecnologia deveria quebrar a punição feita a Adão e Eva, porém ela expande o acesso das teias do mercado e o número de instrumento para consumo.

O ideal burguês de trabalho é "revolucionador", entretanto já no século XIX mesmo se percebe a falha pela lucratividade e o ciclo das relações entre as classes, em que "Joãos Romãos" prosperam sobre "Bertolezas". Como o trabalho de Sísifo, que carrega sempre a mesma pedra, esperando alcançar o topo da montanha, o homem trabalha buscando um lazer no futuro, porém, como se sabe a pedra cai, não se consegue o lazer devido a todo um sistema.