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Luiz Paulo Correia e Silva
Criar Araraquara

A volta do político pródigo

"Lalino vendera sua esposa para se aventurar na cidade grande. Simpático, matreiro e avesso ao trabalho, o desiludido 'ex-marido' voltou a sua terra para recuperar a tola" (A volta do marido pródigo). Em nossa terra, políticos lalinos vendem suas verdades pelo decrépito marketing em busca de aventuras no poder. Esnobando denúncias e desiludidos com o "curto" mandato, eles ressurgem, sob cinzas publicitárias, com cínicas súplicas populistas: "meu nome é educação!". Resultado: somos a esposa ex-abandonada de um marido cafajeste. Mas e a... Educação?

Sem dúvidas, ela denota uma histórica domesticação. Enquanto o governo americano punia os pais que não educassem os filhos, os portugueses temiam nos educar, como se fôssemos bestas ensandecidas. Enquanto a Argentina inaugurava sua universidade em 1613, fundávamos a nossa em 1920 para exibição ao rei Alberto da Bélgica. E assim emergia nosso primitivismo ignorante, culminado, hoje, em analfabetos (funcionais), cuja miséria mental é refletida na incapacidade para profusões linguísticas e sensos críticos. Embriagados por históricos cânceres políticos e pela própria ociosidade intelectual, mantemos as paisagens encachoeiradas e a impunidade. Até quando muniremos essa domesticada manada asinina?

"A burrice é um fenômeno da natureza" (Nelson Rodrigues). Longe de ser um fenômeno da natureza, nossa estrutura educacional também infla tal manada. Estamos submetidos, em boa parte, a um ensino mecanizado, de resumos plastificados, sem estímulo à criação e ao questionamento. Logo, a perene capacitação é sacrificada por regras moderadoras - exames fáceis revelam a malandragem de professores despreocupados e alunos vagabundos. Ademais, esse panorama também é expressão de um presente absoluto: o ensino deve ser rápido e prático, deve ser "fast-food". Qualidade, mera intensidade do momento. O mais importante é o breve gozo de um hedônico agora que baila no culto do inculto, desdenhando tudo aquilo que lembra que a vida não é só diversão.

E assim a produção em série de "Homos estupidus" também é consequência da desvalorização do professor. Se muitos somos máquinas não pensantes submissas a um desprazer compulsório, baixos salários explicam a descrença do (e no) preceptor. Entre taxas de juros e construções de estádios, o tema educação é um soslaio na pauta política, que até discute a construção de escolas, mas não o currículo e as metodologias. Além disso, não há um consenso entre Estado, corpo docente e o alunado, mas sim a divergente retórica de clichês, achismos e "gestos lalinos". Ninguém parece enxergar que o "operário faz a coisa e a coisa faz o operário" (Vinícius de Moraes). Sem cooperação, somos coisas e operários incompatíveis.

Encalacrados nas sombras anencéfalas de uma desestrutura educacional, somos míopes perante esse cenário, alicerce para a saga pródiga de nossos "Malufs" e "Sarneys". No atual conto roseano, o valor de nossa educação está calcado numa histórica domesticação, no ensino mecanizado e na desvalorização do professor. Fortes combustíveis para que fomentemos nossos "cérebros-teflon" (em que nada gruda) e continuemos a ser a esposa abandonada de lalinos cafajestes.