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Carolina Quireza Jacob de Andrade
Criar Ribeirão Preto

O verde trânsito

A estiagem ilustra bem inúmeros aspectos humanos. A paisagem seca, amarelada. O valor sufocante intensifica a angústia e a apatia. A grama é uma mistura da areia e folhas mortas. Caem, então, as primeiras gotas. Surgem, aqui e acolá, os pontinhos verdes. Chove. A natureza agita-se. Esquecemos e passamos a ter a impressão de que foi sempre assim. Análogas a isso são as relações no trânsito brasileiro: um misto de status e independência, de morte e vida, de azul e preto.

O automóvel chegou ao Brasil em 1892 e poucos anos depois, em 1903, registrou-se, com Olavo Bilac na direção, o primeiro acidente. Fato sintetiza a introdução do carro no país, transformando em fonte de poder e hierarquização. Estando parnasintoxificados, aceleramos bárbaros comportamentos no trânsito, os quais são justificados pela (suposta) superioridade das rodas diante das pernas e dos pedais.

A mudança do local que abrigaria uma das estações de metrô no bairro Higienópolis, na cidade de São Paulo, é legitimada por um melhor equilíbrio da linha. Grande hipocrisia. Certamente, os "parnasianos" do bairro sentiram-se incomodados e, de alguma forma, imobilizaram a obra. Assim, torna-se evidente a falta de compreensão diante da necessidade do transporte público, o qual desengasga (um pouco) as cidades.

O estado está assistindo a essa comunidade, fato que nos remete à falta de assistência das políticas contra o católico trânsito brasileiro. Ninguém, até agora, esteve disposto a enfrentar a sociedade, afinal, a reeleição é (muito) mais importante do que "eventuais" acidentes e quilométricos congestionamentos.

Vista de cima a verde floresta, suplantando o amarelo desértico, mostra sua homogeneidade e sua placidez. Em seu interior, são perceptíveis seus vacilos, suas competições e inconstâncias. O trânsito brasileiro é essa floresta, imutável no funcionamento, mesmo que caótico, mas repleto de problemas internos, consequências de uma política, uma economia e uma sociedade mal engenhada.