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Adriana Martins Ferreira
Criar Ribeirão Preto

O fio do Minotauro

Diariamente enfrentamos, na internet, um grande labirinto do Minotauro como Teseu. Felizmente, também possuímos um fio de Ariadne que nos direciona naquela imensidão de caminhos. A ferramenta autocomplete desde sempre proporcionou a sensação de praticidade, além de ter exercido a função de guia para nossas pesquisas. Entretanto, esse pensamento é apenas a ponta do fio. Mais que apenas um guia, tal ferramenta é um reflexo de nossa sociedade, implicando a formação de indivíduos e controlando de forma incógnita nossos próprios pensamentos.

As sugestões do autocomplete são sempre as opções de pesquisa mais digitadas pelos usuários de determinada região. De certa forma, essa voz da maioria parece nos induzir a clicar mesmo que a opção não seja nosso propósito inicial. Na formação de um indivíduo, isso implica certa padronização de pensamento, como se aquelas poucas palavras fossem suficientes para gerar uma ideologia. Em "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, quem exerce esse papel é o governo, que cria um padrão de ação e pensamento que são impostos à população, promovendo a ausência de um pensamento individual.

Contudo, esse padrão proveniente do autocomplete não é criado por entidades de poder, e sim por nossa própria sociedade. Ele reflete a forma como a maioria pensa e a transmite para nosso meio social. Por esse motivo, basta digitar poucas palavras no procurador para saber o que se passa na mente coletiva em determinado momento. Ainda assim, essa noção de coletivismo implica uma indução de pensamento que mal nos damos conta.

Na ficção científica "A Origem", de Christopher Nolan, os personagens principais têm a missão de realizar uma inserção, ou seja, implantar em uma pessoa a origem de uma ideia através de seus sonhos, subentendendo que a ideia foi invento próprio. Da mesma forma, nossos pensamentos são controlados pelo mecanismo do autocomplete. Selecionamos a pesquisa sugerida acreditando ter sido nossa ideia original. É um controle muito sutil, muitas vezes, dado como inexistente, mas que aumenta seu grau de influência gradativamente.

O fio de Ariadne, afinal, não é exatamente um guia para nosso labirinto. Ao mesmo tempo em que reflete nossa sociedade, ele intercepta nossos pensamentos, criando origens de ideias que não são nossas e influencia a mente do indivíduo ainda em formação. É como se, na realidade, não houvesse uma saída ao final do fio e sim uma armadilha até o próprio Minotauro.