Um jovem galã, que faz sucesso entre mulheres, mantém secretamente em relacionamento estável com várias, satisfazendo cada uma completamente, fazendo-as sentirem-se únicas. Não sabem, porém, que lidam com aquilo que mais abominam o comum e vulgar, o mesmo para todas. Esse é o retrato da arte na pós-modernidade: o capitalismo - pregador universal do individualismo - refere-se à arte como um fator de diferenciação, cultura, mas não passa do bom e velho molejo de que se alimenta toda a sociedade, completamente satisfeita.
Os galanteios que arrancam os suspiros de nós, cidadãos, namoradas ludibriadas, são dados a todas as outras, há muito tempo. É uma fórmula de conquista que apenas se aprimora, sem perder sua essência. Tal é o princípio "artístico" reinante, que flerta com a sociedade, oferecendo-a novidade, e dando-lhe antiguidade maquiada. É o caso do maior fenômeno pop dos dias de hoje: Lady Gaga. Apesar de parecer estranhamente inédita, a "performer" é uma mistura de ícones pop passados, como Britney Spears, Madonna, Mariah Carey, Jennifer Lopez, entre outras; apresentando aquilo que já agradou, mas com nova cantada.
Com tal engodo, o capitalismo priva a sociedade de grandes choques ideológicos, mantendo-a comportada e obediente namorada, que não experimenta outros homens por estar confortável. Arte implica, necessariamente, incômodo e transgressão, para mudanças paradigmáticas. Portanto, na maioria das vezes, não temos arte; temos - no máximo - decoração, que conforta, mas não avança. É por isso que em "Admirável Mundo Novo", os dirigentes privam a população de acesso a obras de autores como Shakespeare enquanto a alta cúpula o tem. Nada mais inerte que a provação à arte, que estaciona o povo em sua mediocridade domesticada. Analogamente, o capitalismo, hoje, atua como o namorado infiel, o controlador, que jura fidelidade a cada uma de suas amadas; inibindo a infidelidade delas, mas praticando-a fervorosamente.
Por conta de controle artístico a que hoje estamos submetidos, predomina a satisfação cultural e falta de ousadia e experimentação. A eufêmica "arte" a que hoje temos comum acesso, é um reles galã, que ao confortar muitas ao mesmo tempo, conforta cada uma; a ponto de impedir que procurem alternativa, que almejem progresso, inquietude, confronto, enfim; reação. Assim, constitui-se a máxima pós-moderna: individualismo massificado. Paradoxo? Bem-vindo à galante arte.