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Clara Leal Voltarelli
Criar Ribeirão Preto

Viscosidade e inteligência: agora em sacos

Alicates, paus de arara, música, imagens ou sacos plásticos, como os usados por Capitão Nascimento para encontrar o traficante Baiano, no filme "Tropa de Elite". Esses são instrumentos da poderosa ferramenta estatal, que lhe poupa tempo e dinheiro. Diante disso, ulula que a tortura se justifica hoje nos ditos governos democráticos, porém se legitima? Não, pois além de claro atentado à viscosidade humana, atesta a incompetência bruta das autoridades políticas.

Como combater a violência de um indivíduo que incomoda e denigre o Estado? Ora, nada mais rápido e barato que a tortura. Assim se fez no livro e filme "Laranja Mecânica", em que o protagonista é bombardeado com músicas, imagens e drogas para sentir dor ao desejar violentar alguém. Dessa forma, é destituído de todas as suas escolhas morais e passa a fiar-se no ideal governamental de não violência, apesar de ter sido vítima dela. Torna-se uma laranja mecânica: por fora dotado de viscosidade saudável, porém interiormente revestido de maquinário manipulável por autoridades, que podem realizar toda sorte de meneios. É pouco provável que desumanizar em prol da sociedade e Estado seja legítimo, mas sem dúvida justificável.

Como encontrar o inimigo número um do mais poderoso Estado em função? Ora, nada mais prático e ávido que a tortura. Foi desse modo que Bin Laden, considerado ameaça aos EUA, foi delatado por companheiros em Guantánamo, resquício indelével da brutalidade estadunidense de Bush que se perpetua, Apesar de alcançar objetivos nacionais, essa forma anacrônica e pontualmente útil de poder assina certificado de deficiência cognitiva estatal. Em outras palavras, torturar é burrice. Apelar à força bruta, além de atacar os próprios ideais humanitários defendidos pela democracia norte-americana, é declarar ineficiência em utilizar recursos de inteligência para os devidos fins imperialistas. Por isso, a tendência é que a pressão violenta seja substituída por espionagem, como acorre hoje na NSA (Agência de Segurança Nacional) dos EUA, a qual realiza invasões, porém sem comprometer qualquer integridade física. Legítimo? Também não, mas cegamente justificado.

Nesse contexto, torturar tem respaldo social e governamental, mas não ético, moral e cognitivo. Sem usar a força bruta, menos fantoches sociais vagariam pelas cidades, mais recursos inteligentes estariam em exercício e figuram como Capitão Nascimento - aglutinação da brutalidade e burrice estatais - estariam em extinção. Talvez se a massa cinzenta fosse usada, Baiano seria encontrado sem sacos.